Existem dezenas de ações mais antigas e avançadas que as pessoas desconhecem
A prisão de Beto Richa presta-se a duas leituras opostas.
Uma é ruim para o PSDB: com dois ex-governadores importantes na cadeia, o partido não tem como passar a campanha apontando o dedo para o PT no tocante à corrupção.
Outra é ruim para o PT: fica difícil sustentar o discurso de que a Lava Jato quer só tirar Lula do páreo, pois na mesma Curitiba em que ele está preso foi detido um cacique tucano.
Acontece que os vetores contrários não contam toda a história.
Chama a atenção o fato de as duas ações contra Richa terem sido executadas no mesmo dia, a menos de um mês da votação, sendo relativas a algo que ocorreu de 2012 a 2014, contra alguém que perdeu o foro especial em abril. Ainda assim, fosse esse um caso isolado, vá lá, já que cada processo jurídico tem seu curso.
Mas são dias de saraivada do Ministério Público, que mirou dois candidatos a presidente (o tucano Geraldo Alckmin e o petista Fernando Haddad) e um governador-candidato (o tucano Reinaldo Azambuja, de MS).
O estranhamento levou o Conselho Nacional do Ministério Público a investigar os promotores envolvidos —decisão que a força-tarefa da Lava Jato considera intimidatória.
Ainda que as apurações contra os políticos estejam em estágio inicial, o impacto eleitoral é evidente. Só que existem dezenas de ações mais antigas e avançadas, sobre gente que faz sorridente campanha por aí sem que o eleitor saiba se deveria estar na urna ou na cadeia. Ou pior, o cidadão desconhece a acusação, “escondida” que está no Judiciário.
Apenas da Lava Jato são 19 réus candidatos. No STF, há inquéritos que se arrastam há mais de dez anos, permitindo que os políticos se candidatem e recandidatem. Renan Calheiros, que tenta continuar no Senado, é o nome mais famoso da turma.
A estridência do Ministério Público em período eleitoral somada à lentidão de sempre dos tribunais resulta em deformação —uma imensa assimetria de informações do sistema jurídico em prejuízo do eleitor.
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