Novo Congresso e Jair Bolsonaro no segundo turno levam investidores a apostar em reformas econômicas
Em um cenário de fragmentação recorde – 30 legendas elegeram deputados –, partidos mais ligados ao ideário conservador, como PRB, DEM e, principalmente, o PSL, de Jair Bolsonaro, ampliaram a representação na Câmara na próxima legislatura. MDB e PSDB, siglas que antes estavam entre as maiores da Casa, encolheram, respectivamente, 48% e 46%, na comparação com 2014. A taxa de renovação foi de 52%, a maior dos últimos 20 anos. A vantagem que Bolsonaro obteve sobre Fernando Haddad (PT) e a composição mais conservadora do Congresso levaram o Ibovespa a movimentar R$ 28,9 bilhões ontem, o maior volume nominal da história. Para investidores, o novo perfil do Congresso poderá permitir a Bolsonaro encaminhar reformas econômicas, caso seja eleito. A Bolsa fechou em alta de 4,57%, aos 86.083 pontos, nível mais elevado em quase cinco meses. O dólar fechou em baixa de 2,40%, aos R$ 3,76, menor cotação em dois meses.
Partidos conservadores avançam na Câmara
Felipe Frazão / O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Embalados pelo PSL, do presidenciável Jair Bolsonaro, partidos mais ligados ao ideário conservador ampliaram a representação na Câmara na próxima legislatura. Em um cenário de fragmentação recorde – 30 legendas elegeram parlamentares –, siglas como o PRB, ligado à Igreja Universal, e o DEM, além do PSL, melhoraram seu desempenho.
O resultado das urnas revelou também que a distância se encurtou no grupo dos partidos médios. Houve uma queda expressiva de dois partidos que antes estavam entre os maiores: o MDB e o PSDB. Eles caíram, respectivamente, 48% e 46%, em comparação com o desempenho de quatro anos atrás. A taxa de renovação na Câmara foi a maior dos últimos 20 anos – 52%, conforme dados do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
O próximo presidente terá de negociar pautas e votos com mais partidos de bancadas médias, além de nanicos antes sem congressistas – PRP, PMN, PTC, DC. Especialistas acreditam que eleitos por siglas que não atingiram a cláusula de barreira migrem para a base governista.
A nova correlação de forças deve mudar também os acordos e articulações para a eleição da presidência da Casa, que costuma passar pelo Palácio do Planalto e dependerá da influência do presidente a ser eleito.
Atualmente, a Câmara é comandada pelo deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que, antes da eleição, já havia deixado claro seu interesse em disputar um novo mandato para o comando da Casa. Maia tem como base de sustentação os partidos do chamado Centrão – formado por PP, DEM, PR, PRB e Solidariedade –, que encolheu 22 parlamentares e perdeu força na eleição de domingo. Juntos, os cinco partidos terão 142 representantes na próxima legislatura, ante 164 em exercício atualmente, uma redução de 13,4%.
Com ativos como tempo de TV e verbas públicas, o apoio de partidos do Centrão foi disputado pelos candidatos a presidente de diferentes espectros políticos, e o bloco fechou aliança com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), que terminou a disputa em quarto lugar.
O Centrão, que ascendeu ao comando da Câmara em 2015, com a eleição do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) para presidir a Casa, foi crucial para a abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Depois, virou base de governo do sucessor, o presidente Michel Temer, e se reorganizou no Legislativo mesmo após a cassação de Cunha, condenado e preso na Operação Lava Jato.
Os conservadores também cresceram entre os nanicos. O Partido Novo elegeu oito deputados em sua primeira disputa nacional (mais informações na página A12). Sem deputados em exercício, o PRP e o PTC fizeram, respectivamente, quatro e dois deputados.
Impeachment. O processo de impeachment de Dilma também motivou a ascensão de novos nomes na Câmara, como a jornalista Joice Hasselmann (PSL-SP), segunda candidata mais votada em São Paulo, atrás apenas de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidenciável. Apesar de não liderar nenhum movimento, a jornalista militou pelo afastamento de Dilma nas redes sociais.
Outro nome que ganhou fama na época e agora terá um mandato parlamentar é Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos líderes do MBL, movimento que militou pelo impeachment. Também se elegeram na esteira das manifestações o ator Alexandre Frota (PSLSP) e Carla Zambelli (PSL-SP).
Oposição. Já os partidos de esquerda, oposição a Temer, quase não mudaram de tamanho para a próxima legislatura. Eram 137 ao todo após a eleição de 2014, e serão 136 a partir de 2019.
Embora ainda a maior bancada, o PT perdeu 18% das cadeiras em relação à última eleição – caindo de 68 deputados para 56 eleitos. Já o PSB é o maior partido na centro-esquerda, com uma bancada de 32 deputados, dois a menos do que em 2014, mas uma recuperação em relação aos 26 em exercício atualmente – o partido perdeu parlamentares no ano passado. Com Ciro Gomes na disputa do Planalto, o PDT subiu de 20 para 28 congressistas, 40% a mais.
O PSOL teve seu pior desempenho presidenciável com Guilherme Boulos, mas ganhou espaço na Câmara: a bancada dobrou de cinco para 10 deputados. O partido superou o PCdoB, que fez nove, um a menos do que tinha. A Rede de Marina Silva, elegeu só uma deputada.
Colaborou Marianna Holanda
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