- Folha de S. Paulo
O eleitor sem voto é quem vai decidir essa eleição polarizada e cheia de ressentimentos
Dois movimentos claros foram observados nas urnas neste domingo (7). O primeiro é o movimento antissistema: muitos nomes ligados à política tradicional e que esperavam se eleger foram abandonados pelo eleitor. O segundo é a guinada, fora do Nordeste, para a direita.
No Sul e no Sudeste (fora o ES), quem é visto como sendo de fora da política, combateu o PT e se alinhou a Bolsonaro se deu bem. O centro está bem pequenininho na eleição presidencial. E, mesmo assim, é para ele que Haddad e Bolsonaro terão que correr para garantir a vitória. Bolsonaro larga na frente: com mais de 46% dos votos válidos, ele precisa de apenas uma pequena parcela dos votos que não foram para ele no primeiro turno.
Para isso, deve mostrar que sua candidatura não é o fantasma ultrarreacionário e militarista que seus adversários pintam. E que, para além das declarações polêmicas, existe algum tipo de visão coerente para o Brasil. Não faltará tempo de TV, sabatinas e debates para avaliar seu conteúdo.
Chega do silêncio imposto ao general Hamilton Mourão e a Paulo Guedes: o Brasil precisa saber o que Bolsonaro tem a dizer, se é que tem algo.
Para Haddad, a corrida ao centro é mais longa. Sua vitória dependerá não apenas de ganhar a imensa maioria dos votos que não foram para Bolsonaro; ele terá que converter alguns eleitores do capitão para o seu lado. Não será fácil, mas talvez ele consiga algo no eleitorado nordestino. Apoiadores de Bolsonaro que demonstrem preconceito contra o Nordeste serão seus aliados involuntários nessa missão.
No primeiro turno, o PT dobrou a aposta de Dilma na economia (crédito barato, mais gasto público, combate ao setor financeiro), aferrou-se ao programa bolivariano de controle do poder (nova Constituição, controle social da mídia) e repetiu incessantemente o "Lula Livre" (sendo que apenas 37% da população o quer solto). Ver um candidato à Presidência se consultando com um presidiário é --independentemente da opção política-- abjeto.
Haddad terá que repudiar tudo isso para ter alguma esperança de ser a opção de centro. Não basta se dizer defensor da democracia e continuar com a agenda da esquerda antidemocrática latino-americana.
Em 2012, quando lançou-se pela primeira vez à Prefeitura de São Paulo, Haddad aparecia como uma promessa de renovação dos quadros e modernização do pensamento do PT. Neste primeiro turno, negou tudo isso e se transformou num poste apagado do lulismo. Faça o que fizer, o voto da esquerda ele já tem; mas será que é possível mudar em três semanas?
Em ambos os casos, a ida para o centro terá que passar pelo teste da credibilidade. É fácil mudar as palavras de forma oportunista. Para indicar uma mudança real, será preciso trazer pessoas diferentes para a equipe.
O eleitor sem voto é, a partir de agora, rei. Eu sou um deles. Não adianta vir com chantagem, acusando quem não vota em seu candidato de ser cúmplice de ditaduras (brasileira ou venezuelana), de ser fascista ou comunista. Nenhum dos lados tem autoridade moral para isso. Vocês nos lançaram num segundo turno polarizado e deixaram o Brasil cindido e ressentido. O eleitor que não participou dessa farsa extremista não tem motivo para se mexer; os candidatos que venham até nós.
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