segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Justiça reage a vídeo em que filho de Bolsonaro fala em ‘fechar STF’

Após declaração de deputado contra o Supremo, ministra Rosa Weber diz que ‘juiz algum vai se abalar’

Vídeo em que Eduardo Bolsonaro(PSL)—deputado federal eleito coma maior votação no país—afirma que bastam “um cabo e um soldado” para fechar o Supremo Tribunal Federal gerou reações como a da presidente do TSE, ministra Rosa Weber, e da Associação dos Magistrados Brasileiros, que afirmou que juízes “não se curvam a ataques de qualquer natureza e pressões externas ”. Ministros do STF também manifestaram contrariedade coma declaração. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disseque as afirmações “cheiram a fascismo”. Para Jair Bolsonaro, ovídeo está fora de contexto e quem defende fechar o STF “precisa de psiquiatra”. Eduardo Bolsonaro pediu desculpas e destacou que agravação ocorreu há quatro meses.

AFRONTA E RECUO

Filho de Bolsonaro fala em ‘fechar o STF’, recebe críticas do Judiciário e se desculpa

Bernardo Mello, Manoel Ventura, Mariana Martinez e Sérgio Roxo | O Globo

Um vídeo em que o deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidenciável Jair Bolsonaro, diz que “para fechar” o Supremo Tribunal Federal (STF) bastam “um cabo e um soldado” foi recebido com críticas de representantes do Judiciário, como a ministra Rosa Weber, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Após a repercussão negativa, o próprio parlamentar pediu desculpas pelas frases ditas no dia 9 de julho, em um curso em Cascavel (PR) para interessados em prestar concursos públicos.

No vídeo, Eduardo Bolsonaro é perguntado por um aluno sobre uma eventual ação do STF para impedir a posse de seu pai, caso fosse eleito em primeiro turno, e qual seria a atitude do Exército neste cenário hipotético.

—Aí já está encaminhando para um estado de exceção. O STF vai ter que pagar para ver. E aí, quando ele pagar para ver, vai ser ele contra nós —disse o parlamentar, para depois insinuar que os militares não teriam dificuldade em fechar o STF. — Será que eles vão ter essa força mesmo? O pessoal até brinca lá: se quiser fechar o STF, você sabe o que faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo —completou.

Há ainda trechos do vídeo em que Eduardo Bolsonaro ironiza o apoio da população ao STF.

—Se você prender um ministro do STF, você acha que vai ter uma manifestação popular em favor dos ministros do STF? Milhões na rua: “Solta o Gilmar, solta o Gilmar” (referência ao ministro do STF Gilmar Mendes).

Ontem, ao ser questionada sobre as posições de Eduardo Bolsonaro, Rosa Weber reagiu, dizendo que nenhum juiz irá se abalar com as manifestações.

— Embora não sendo presidente do STF, e sim do TSE, no Brasil as instituições estão funcionando normalmente. Juiz algum no Brasil se deixa abalar por qualquer manifestação que possa ser compreendida como inadequada —disse.

O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, criticou a declaração:

— Tempos estranhos, vamos ver onde é que vamos parar. É ruim quando não se tem respeito pelas instituições pátrias, isso é muito ruim — disse, ao jornal “O Estado de S. Paulo”.

Após a declaração de Rosa, Eduardo Bolsonaro veio a público tratar do tema. Em uma postagem no Twitter, o parlamentar publicou um texto argumentando que respondia a uma “hipótese esdrúxula”, e que apenas citou “uma brincadeira” que diz ter ouvido de “alguém na rua”.

O deputado escreveu ainda que “se fui infeliz ou atingi alguém, tranquilamente peço desculpas e digo que não era minha intenção. (...) Se alguém defender que o STF precisa ser fechado, de fato essa pessoa precisa de um psiquiatra. Eu jamais falei isso”, publicou.

Ao ser abordado por jornalistas na chegada para gravação de programas do horário eleitoral, Jair Bolsonaro disse desconhecer o vídeo e que as falas do filho haviam sido tiradas de contexto.

— Isso não existe. Se alguém falou em fechar o STF, precisa consultar um psiquiatra. Desconheço. Duvido. Alguém tirou de contexto —disse.

Entidades de classe também se manifestaram sobre as falas de Eduardo Bolsonaro. A presidente em exercício da Associação dos Magistrados Brasileiros, Renata Gil, afirmou que o Poder Judiciário não se curvará a ataques:

—O Brasil vive a plenitude de sua democracia. Nossas instituições são fortes e consolidadas. O Poder Judiciário é independente, e os magistrados brasileiros não se curvam a ataques de qualquer natureza ou a pressões externas —declarou Renata Gil.

HADDAD E FH CRITICAM
O presidente da OAB, Cláudio Lamachia, afirmou, em nota, que o STF é uma instituição essencial para garantir a estabilidade do país. “O mais importante tribunal do país tem usado a Constituição como guia para enfrentar os difíceis problemas que lhe são colocados, da forma como deve ser. É obrigação do Estado defender o STF”
.
Fernando Haddad, candidato do PT ao Planalto, referiu-se a Bolsonaro e sua família como “um grupo de milicianos”.

—Esse pessoal é uma milícia. Não é um candidato a presidente, é um chefe de milícia. Os filhos são milicianos, são capangas. É gente de quinta categoria — criticou o petista.

Além de Haddad, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, condenou as declarações e disse que “cruzaram a linha, cheiram a fascismo”.

Em seu perfil no Twitter, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que as declarações de Eduardo Bolsonaro “merecem repúdio dos democratas”. “(Eduardo Bolsonaro) Prega a ação direta, ameaça o STF. Não apoio chicanas contra os vencedores, mas estas cruzaram a linha, cheiram a fascismo. Têm meu repúdio, como quaisquer outras, de qualquer partido, contra as leis, a Constituição”, escreveu.

O presidente do STF, ministro Dias Toffoli, não quis comentar as declarações. A Procuradoria-Geral da República não se pronunciou.

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