Por Francisco Góes, Rodrigo Polito, André Ramalho, Rafael Vazquez, Fabio Graner e Rafael Bitencourt | Valor Econômico
RIO, SÃO PAULO E BRASÍLIA- A uma semana do 2º turno da eleição presidencial, o candidato Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas, radicalizou o discurso contra seu adversário, Fernando Haddad, e o PT. Em vídeo divulgado pelo Twitter, disse que Haddad e o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) farão companhia a Lula e "apodrecerão" na cadeia ou serão "banidos" do país. "Se Lula estava esperando o Haddad ganhar e assinar decreto de indulto, vou dizer uma coisa: você [Lula] vai apodrecer na cadeia", atacou ele, chamando-os de "marginais".
Na sua diatribe, o candidato disse que a "Folha de S.Paulo é a maior 'fake news' do Brasil" e não receberá mais "verba publicitária do governo", se ele for eleito. Na semana passada, o jornal publicou denúncia de que a campanha de Bolsonaro teria recebido ajuda ilegal de empresas para disparar mensagens no Whatsapp com informações falsas sobre Haddad. No sábado, a Polícia Federal abriu investigação sobre o caso, a pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Ontem, a presidente do TSE, Rosa Weber, falou sobre "fake news", ao lado de outras autoridades, por mais de três horas, mas indicou que não haverá decisão antes do fim da eleição. "O Direito tem o seu tempo", justificou.
O tom exaltado do candidato do PSLcontrastou com declarações dadas no sábado, quando procurou tranquilizar o mercado financeiro. Ele admitiu manter Ilan Goldfajn na presidência do Banco Central e defendeu a "autonomia política" da instituição. O tempo fechou, porém, após a divulgação de vídeo, gravado há quatro meses, em que Eduardo Bolsonaro, seu filho, disse em palestra que, para fechar o STF, "basta um cabo e um soldado". A frase foi resposta à possibilidade de o Supremo impugnar a candidatura de seu pai. "As declarações merecem repúdio dos democratas", reagiu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em sua conta no Twitter.
Bolsonaro radicaliza tom contra Haddad e PT
O candidato a presidente pelo PSL, Jair Bolsonaro, radicalizou ontem o tom contra seu adversário, Fernando Haddad, e o PT. Ele prometeu a seus apoiadores em um vídeo no Twitter que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Haddad "apodrecerão na cadeia". O domingo foi marcado por manifestações em todo o país convocadas por apoiadores do presidenciável.
"A faxina agora será muito mais ampla. Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão para fora ou para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria", discursou Bolsonaro. O vídeo foi gravado pelo celular, no jardim de uma casa, para ser transmitido durante o ato de apoio à sua candidatura na Avenida Paulista, em São Paulo. Ele foi tornado público na conta do Twitter da candidatura às 19h55 de ontem. "Essa pátria é nossa. Não é dessa gangue que tem bandeira vermelha e a cabeça lavada", completou.
Durante o vídeo, o candidato chamou o jornal "Folha de S.Paulo" de "a maior fake news do Brasil". "Não terão mais verba publicitária do governo." O candidato do PSL disse ainda que "lugar de bandido é atrás das grades" e que Haddad e o senador petista Lindbergh Farias (RJ) em breve farão companhia a Lula na prisão, em Curitiba (PR).
"Se Lula estava esperando o Haddad ganhar e assinar o decreto de induto, vou dizer uma coisa: você [Lula] vai apodrecer na cadeia. Em breve você terá a companhia de Lindbergh Farias para jogar dominó. Aguarde que o Haddad chegará aí também, e não será para visitá-lo não. É para ficar alguns anos aí do seu lado." Bolsonaro prometeu também um "time de ministros" escolhido sem indicações políticas e disse que as Forças Armadas terão um papel "altivo" em seu governo. E prometeu novamente tipificar ocupação de terra como crime de terrorismo. "Vocês, petralhada, verão uma Polícia Civil e Militar com retaguarda jurídica para fazer valer a lei no lombo de vocês", disse.
Até ontem, Bolsonaro vinha procurando passar sinais de moderação na campanha. O esforço foi comprometido depois da divulgação de um vídeo, gravado meses atrás, do deputado Eduardo Bolsonaro, seu filho, comentando que para fechar o STF basta "um cabo e um soldado". Bolsonaro e o filho desmentiram qualquer intenção de avançar contra o Supremo. No sábado, Bolsonaro se disse contrário à reeleição e indicou que poderia manter o atual presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn. Disse ainda que o PSL abria mão da presidência da Câmara, o que cria espaço de negociação com o Centrão.
A declaração de Eduardo Bolsonaro no vídeo viralizou na internet e motivou uma série de reações na classe política e no judiciário. No Maranhão, Haddad, considerou o discurso do deputado como uma ameaça ao STF. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também condenou as afirmações do filho de Bolsonaro em uma postagem no Twitter: "As declarações merecem repúdio dos democratas. Prega a ação direta, ameaça o STF. Não apoio chicanas contra os vencedores, mas estas cruzaram a linha, cheiram a fascismo".
A reação de Bolsonaro foi rápida. Questionado por jornalistas, afirmou: "Se alguém falou em fechar o STF, precisa consultar um psiquiatra." Os jornalistas insistiram na pergunta, e o capitão da reserva encerrou o assunto: "Se alguém falou, tirou [a frase] de contexto." Horas depois, o deputado Eduardo Bolsonaro publicou um texto em sua conta no Facebook no qual desmente ter defendido o fechamento do STF. Segundo o deputado, o vídeo foi gravado há quase quatro meses e só veio à tona agora por conta da proximidade das eleições.
"Se fui infeliz e atingi alguém tranquilamente peço desculpas", escreveu o parlamentar, que afirmou ter respondido a uma "hipótese esdrúxula", que seria a da impugnação da candidatura do pai sem fundamentação. "De fato, se algo desse tipo ocorresse, o que eu acho que jamais aconteceria, demonstraria uma situação fora da normalidade democrática", disse. Para o filho de Bolsonaro, o vídeo não é motivo para alarde. "Até porque eu mesmo o publiquei em minhas redes sociais há quase 4 meses. Trata-se de mais uma forçação de barra".
No vídeo, Eduardo Bolsonaro afirma: "O pessoal até brinca lá. Se você quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é desmerecendo o soldado e o cabo, não. O que é o STF, cara? Tipo, tira o poder da caneta de um ministro do STF, o que ele é na rua? Se você prender um ministro do STF, você acha que vai ter uma manifestação popular a favor dos ministros?". A declaração de Eduardo Bolsonaro, reeleito como deputado federal por São Paulo com votação recorde para o cargo, foi feita em uma palestra antes da eleição do primeiro turno e motivada após uma pergunta que questionava a possibilidade de o STF intervir em uma possível vitória de Jair Bolsonaro já no dia 7 de outubro.
O vídeo, portanto, é anterior às denúncias reveladas nesta última semana por reportagem da "Folha de S.Paulo" sobre a participação de empresas que apoiam Bolsonaro em disparos de notícias falsas contra Fernando Haddad e o PT.
Na resposta, Eduardo Bolsonaro diz que uma intervenção do STF na eleição se trataria de um caso de "estado de exceção", mas chega a comentar que não via a possibilidade como improvável. "Aí já está encaminhando para um estado de exceção. "Você tá indo para um pensamento que muitas pessoas falam, e muito pouco pode ser dito. Mas, se o STF quiser arguir qualquer coisa - recebeu uma doação ilegal de cem reais do José da Silva e então impugna a candidatura dele. Eu não acho isso improvável, não. Mas aí vai ter que pagar para ver. Será que eles vão ter essa força mesmo?", provocou.
Na véspera, Bolsonaro não havia descartado a permanência de Ilan Goldfajn na presidência do Banco Central, caso ele seja eleito presidente da República no dia 28 de outubro. "O que está dando certo tem que continuar. Não vou dizer que tudo está errado no governo Temer", afirmou Bolsonaro a jornalistas após gravar entrevistas com emissoras de rádio e televisão e programa eleitoral.Perguntado se Goldfajn seria um bom nome, Bolsonaro disse: "não sei. Quem vai conversar comigo [sobre isso] é o Paulo Guedes".
Bolsonaro reforçou que o tripé macroeconômico deve ser mantido. E ressaltou que o Banco Central tem que ter autonomia política. O candidato disse que nomeará um diplomata para o Itamaraty e confirmou que indicará um general de quatro estrelas para a pasta da Defesa.
Ele ainda condenou a morte do jornalista do Washington Post Jamal Khashoggi no consulado da Arábia Saudita, em Istambul na Turquia, e classificou o caso como um "absurdo". Khashoggi teria sido assassinado e esquartejado por agentes do governo saudita. O presidenciável do PSL disse ainda que conversou com o presidente do Paraguai, Mario Benítez, e com o presidente da Argentina, Mauricio Macri, nos últimos dias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário