terça-feira, 6 de novembro de 2018

A eleição de hoje é um plebiscito sobre o modo Trump de governar: Editorial | O Globo

Pesquisas sugerem que republicanos podem perder o controle da Câmara

As eleições de hoje renovam a Câmara, um terço do Senado e dois terços dos governos estaduais americanos. São fundamentais ao governo Donald Trump e ao Partido Republicano. Ambos apostam na manutenção da maioria nos dois plenários do Congresso.

O trunfo de Trump é a retomada econômica. Ela começou no governo Barack Obama, mas a atual gestão conseguiu elevar a níveis recordes o crescimento da economia: o resultado é a menor taxa de desemprego (3,7%) dos últimos 49 anos. É cenário desejável para qualquer chefe de Estado, mas insuficiente para dar tranquilidade a Trump no atual mandato e assegurar-lhe perspectivas favoráveis à reeleição.

A eleição se tornou um plebiscito sobre o governo Trump, cujo maior adversário é ele mesmo. Sua peculiar percepção do exercício do poder ajuda a dissimular fragilidades de um administrador que requer supervisão de uma equipe focada na preservação dos interesses estratégicos do país —como descreve em livro o jornalista Bob Woodward.

Ele escolheu governar com inflamada retórica sobre armas, repressão, direitos de minorias e de imigrantes. Acirrou o clima de paranoia e racismo na campanha fomentado pelos radicais do movimento conservador-nacionalista que o apoia.

Acena com a militarização da divisa com o México, país aliado, a pretexto de conter a “invasão” de refugiados centro-americanos. Semana passada insinuou que guardas na fronteira reajam às eventuais pedras como se fossem rifles —isto é, atirando.

A ofensiva retórica de Trump contra migrantes é parte da tática de agitação da base extremista republicana, defensora do projeto de muro na fronteira, para o qual não foi autorizado orçamento suficiente.

Na oposição, o Partido Democrata testa a renovação de elenco. Apostou no eleitorado jovem que, pela primeira vez em décadas, é maior (32%) do que a geração de eleitores nascidos entre 1946 e 1964, os baby boomers do pós Segunda Guerra. A derrota para Trump na última eleição deixou evidente a desconexão com esse extrato da população, majoritário em votos.

Essa abertura acabou impulsionada pela mobilização civil contra o comércio de armas, amplificada após o massacre de fevereiro numa escola da Flórida. Resultou numa inédita diversidade de candidaturas pelo Partido Democrata, por gênero, origem e religião, que hoje deve se refletir na lista dos eleitos para o Congresso.

As pesquisas sugerem que republicanos podem perder o controle da Câmara. Se as urnas confirmarem, Trump terá de ajustar o rumo para dissipar incertezas sobre o seu projeto de reeleição em 2020.

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