- Folha de S. Paulo
Promessas de Bolsonaro têm encontro marcado com o mundo real
Jair Bolsonaro já tirou as medidas para o terno da posse, mas continua vestido com o figurino de campanha. Nos últimos dias, o presidente eleito dobrou a aposta nas promessas que fez na disputa. A diferença é que, agora, suas palavras produzem efeitos que vão além da mera retórica de candidato.
Já vitorioso, Bolsonaro fez questão de reforçar compromissos como a transferência da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém. “Não vejo clima pesado em mudar as embaixadas. Não vejo problema”, disse, em entrevista na última semana.
Pois o problema apareceu. Países árabes reagiram à proposta, que é vista como uma hostilidade aos muçulmanos. Nesta segunda (5), o governo do Egito cancelou uma visita que o chanceler brasileiro, Aloysio Nunes Ferreira, faria ao país.
A ideia de mudar a sede da diplomacia era um acordo do então candidato do PSL com líderes evangélicos. A promessa caiu bem entre esses eleitores (que deram 70% de seus votos a Bolsonaro), mas pode prejudicar as relações comerciais.
Em 2017, o Brasil vendeu US$ 2,4 bilhões ao Egito e só US$ 466 milhões a Israel. A retórica do presidente eleito sobre a China também gerou desconfiança no país asiático, que comprou US$ 47 bilhões no ano passado.
As consequências do discurso de Bolsonaro são uma prévia do encontro que ele terá com a realidade a partir de 2019. No Planalto, deverá escolher diariamente entre os compromissos de um candidato e os conflitos concretos de um presidente.
A soma é complexa e a solução nem sempre é fácil. A anunciada fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente era uma plataforma popular enquanto ele era candidato, mas até seus aliados no agronegócio o pressionaram a recuar.
Nesta segunda, Bolsonaro disse que Sergio Moro terá “100% de carta branca” no Ministério da Justiça, mas reafirmou que não descumpriria suas promessas de campanha. Será difícil calcular o “x”: Moro já indicou ser contra o excludente de ilicitude e a criminalização do MST.
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