Com novas boas notícias no front da inflação, pode-se reforçar a aposta de juros mantidos em 6,50% até o fim de 2018 e provavelmente nos primeiros meses do próximo ano. Se os fatos confirmarem as expectativas quanto aos preços e ao crédito, o ambiente nos mercados será favorável ao novo governo. O presidente Jair Bolsonaro e sua equipe econômica poderão concentrar-se nas medidas de ajuste das contas públicas, as mais urgentes na pauta da nova administração. A próxima decisão sobre juros deve ser anunciada na próxima quarta-feira pelo Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC), depois da última reunião prevista para o ano. A primeira de 2019 está marcada para os dias 5 e 6 de fevereiro.
Economistas do setor financeiro e das principais consultorias baixaram recentemente suas previsões de juros básicos para o próximo ano. Há cerca de um mês a mediana das projeções indicava 8% para o final de 2019. Há duas semanas essa mediana foi baixada para 7,75%, numa reação aos dados mais favoráveis sobre a evolução dos preços. Nas mesmas quatro semanas a expectativa de inflação em 2018 caiu de 4,40% para 3,89%. Nesse período a projeção para 2019 passou de 4,22% para 4,11%.
Os últimos dados da inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) contribuem para as expectativas de preços bem comportados até o fim de dezembro. Em novembro houve deflação. O indicador caiu 0,21% em relação ao mês anterior. Em outubro havia subido 0,45%. A taxa de novembro foi a menor para o mês desde 1994, ano de implantação do Plano Real – um recorde de bom comportamento, portanto, em 24 anos.
Com esse recuo, a alta em 2018 ficou em 3,59%. Em 12 meses a variação acumulada atingiu 4,05%, continuando abaixo da meta de 4,50% ainda em vigor em 2018. A meta será reduzida para 4,25% no próximo ano, 4% em 2020 e 3,75% em 2021. As projeções continuam favoráveis: 4,11% em 2019, 4% no ano seguinte e 3,78% em 2021. Se as expectativas estiverem corretas, a inflação continuará na trajetória fixada pelo governo, enquanto o crescimento da economia ganhará algum impulso.
O IPCA é apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vinculado ao Ministério do Planejamento. A deflação em novembro foi registrada também pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), por meio de seu Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), formado por três componentes: um índice de preços por atacado, com peso de 60%; um de preços ao consumidor, com participação de 30%; e um de custos da construção, com 10% de contribuição para o conjunto.
Em novembro, o IGP-DI caiu 1,14% em relação ao nível de outubro. Os preços por atacado diminuíram 1,70%. Os preços ao consumidor baixaram 0,17%. Só os custos da construção tiveram variação positiva, com alta de 0,13%.
Os indicadores do IBGE e da FGV são diferentes quanto à cobertura e a detalhes de método, mas tendem a variar no mesmo sentido em períodos de um ano. Neste momento, a trajetória de convergência é clara. Além disso, a moderação dos preços por atacado é especialmente promissora, porque aponta pressões leves sobre o varejo nos próximos meses.
A inflação contida é em boa parte explicável pelo alto desemprego e pela demanda ainda moderada na ponta do varejo. Mas é também atribuível à política bem desenhada e bem conduzida pelo Copom, formado por diretores do BC. O sucesso da política monetária no controle da inflação é mais um argumento a favor da autonomia do BC, assunto ainda na dependência de deliberações no Congresso Nacional.
O novo governo dará um bom passo para a modernização institucional do País se incluir entre suas prioridades a aprovação dessa autonomia. Acertará, também, se trabalhar contra detalhes fantasiosos nessa legislação. O Brasil estará bem servido com um BC com as atribuições atuais – defender o poder de compra da moeda e garantir um sistema financeiro sólido e eficiente. Não atrapalhar a autoridade monetária será uma boa ajuda.
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