Fabio Murakawa | Valor Econômico
FOZ DO IGUAÇU (PR) - "A eleição de Jair Bolsonaro é a notícia mais importante que aconteceu nos últimos anos. Desde que Álvaro Uribe foi presidente da Colômbia, não houve outra notícia tão importante quanto a eleição de Jair Bolsonaro no Brasil".
A frase do advogado José Antonio Kast, político chileno à direita do presidente direitista Sebastián Piñera, resume o sentimento dos convidados internacionais da Cúpula Conservadora das Américas. O evento, que aconteceu no sábado em Foz do Iguaçu, teve como anfitrião um dos filhos do presidente eleito, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), com a intenção de se firmar como uma espécie de Foro de São Paulo do conservadorismo latino-americano. O sucesso de Bolsonaro é visto pelos conservadores regionais como crucial para o próprio sucesso dentro de seus países e também para que as pautas da direita na região sejam levadas adiante.
Na cúpula, ouviram-se pedidos para que o Brasil, sob a liderança do ex-capitão do Exército, atue para a derrubada do governo de Nicolás Maduro na Venezuela e do regime cubano, além estimular investigações sobre partidos de esquerda nos países vizinhos.
"Aqui nasceu o Foro de São Paulo, em 1990, dirigido pelo ex-presidente Lula, que está preso hoje e que reflete muito bem o que é a esquerda. A esquerda usa a dor dos mais pobres, diz que vai sacá-los da pobreza e só os empobrece mais. O ex-presidente Lula está preso, e foi o presidente do Partido dos Trabalhadores. E os únicos com quem ele não se preocupou em seu governo foram os trabalhadores", diz Kast.
Kast foi candidato à Presidência do Chile em 2017. Ficou em quarto lugar com 7,93% e, no segundo turno, apoiou Piñera contra o senador esquerdista Alejandro Guillier. Ele hoje critica o presidente chileno por fazer inflexões à "ideologia de gênero" e não cumprir com o prometido corte de impostos. Admirador do ditador Augusto Pinochet (1915-2006), Kast quer tentar novamente chegar Palácio La Moneda e acredita que o sucesso do governo Jair Bolsonaro o ajudará nesse intento
"Claramente, [o governo Bolsonaro] vai ter uma influência importante. Se o Brasil for bem, há muitos países vizinhos ou latino-americanos que vão atrás. Aqui se abre uma nova esperança para os países latino-americanos", afirma Kast.
Ele diz ter se encontrado com Bolsonaro entre o primeiro e o segundo turnos da eleição presidencial. Levou a ele um exemplar de "El Ladrillo" (O Tijolo), livro que traça as bases da política econômica do governo militar chileno, e um pedido. "Eu solicitei que se abra uma investigação formal no Brasil sobre o financiamento a políticos do Chile, concretamente a [Michelle] Bachelet e e ao grupo de governo dela", disse Kast ao Valor.
A senadora colombiana María Fernanda Cabral Molina afirmou que a eleição de Bolsonaro "é um resgate da dignidade do povo brasileiro", que em sua opinião "foi usado" pelo ex-presidente Lula e o PT com um falso discurso de combate à pobreza. "Por isso estamos hoje chamados a voltar e transformar países. Como fizeram os Chicago boys no Chile, como está fazendo Donald Trump nos Estados Unidos, com indicadores econômicos que são irrefutáveis"
A senadora endossou na cúpula um pedido feito ao microfone pelo magistrado venezuelano Miguel Ángel Martín para que Bolsonaro atue para a deposição do governo Maduro. Martín está exilado nos Estados Unidos e é presidente do Tribunal Supremo de Justiça no Exílio, um órgão criado pela Assembleia Nacional venezuelana, de maioria opositora, para se contrapor aos ministros nomeados pelo governo de Maduro em 2015.
"É necessária a união de países para um apoio financeiro e com armas. Porque ali não se pode falar que é com o diálogo. O diálogo leva a milhares de mortos todos os dias. Por falta de remédios, pela fome, pela situação de crise humanitária sem precedente", disse a senadora. "Esta união agora é mais possível com Bolsonaro, porque Bolsonaro marca a pauta de um país que foi de alguma forma quem incubou o foro de São Paulo, que exportou ideias revolucionárias perversas, que trouxeram morte, pobreza e corrupção para a América Latina."
Representante dos exilados cubanos na cúpula, Orlando Gutierrez disse ao Valor ter proposto ao presidente da Organização dos Estados Americanos (OEA) a realização de uma espécie de "Tribunal de Nuremberg" para julgar os crimes cometidos pelo regime comunista cubano. E que gostaria que o Brasil sediasse esse tribunal Ad hoc, formado por membros de diferentes países. Ele apresentou a ideia a Eduardo Bolsonaro, que elogiou a proposta durante a cúpula.
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