Temporais recentes mostram que cidades estão despreparadas para enfrentar chuvas de verão
Faltando menos de um mês para o início do verão, quando chuvas fortes costumam causar tragédias que, em muitos casos, poderiam ser evitadas ou ao menos minimizadas, as cidades não parecem preparadas para enfrentar seus efeitos inexoráveis. Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Santo Andrée São Bernardo, por exemplo, experimentaram, neste fim de primavera, uma prévia do que está por vir. Em BH, na noite de 15 de novembro, um temporal causou a morte de três pessoas —duas estavam num carro coberto pelas águas, e a terceira foi arrastada pela força da correnteza. Cenas dramáticas de um ciclista sendo levado pela enxurrada do último dia 23, em São Bernardo, na Grande São Paulo, viralizaram nas redes, chocando a população. No Rio, as chuvas dos dias 25 e 26 alagaram ruas e causaram quase 200 quilômetros de engarrafamentos, cinco vezes mais do que num dia normal.
Parte desse despreparo pode ser explicada pela falta de investimentos na prevenção de desastres. Como mostrou reportagem da GloboNews, com dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, os repasses do Ministério das Cidades para obras contra enchentes em municípios de todo o país, entre janeiro e setembro deste ano, caíram 8% em relação ao mesmo período de 2017 (de R$ 125,6 milhões para R$ 115,4 milhões). A verba atual, aliás, é a mais baixa dos últimos sete anos, segundo o levantamento.
Para Ricardo Young, do Instituto Democracia e Sustentabilidade, essa redução demonstra uma concepção equivocada do papel das cidades na questão climática. “Sem receber recursos, as cidades não têm como mitigar consequências dessas mudanças climáticas extremas”, diz.
O contingenciamento de recursos não acontece apenas no plano federal. No Rio de Janeiro, onde as chuvas não raramente causam mortes, a prefeitura também cortou onde não devia. Conforme reportagem do GLOBO, com base em levantamento feito pela vereadora Teresa Bergher (PSDB), as despesas com manutenção e obras de galerias pluviais, encostas e saneamento caíram 70% nos últimos dois anos. Em 2016, foram 759,1 milhões; no ano seguinte, R$ 229,3 milhões, e, este ano, R$ 207,5 milhões. Somente para conservação de bueiros, os gastos cederam de R$ 35,3 milhões, em 2016, para R$ 19,1 milhões este ano. Depois não se pode culpar o volume excessivo de chuva ou a maré alta pelo caos instalado na cidade.
Se é possível tirar uma lição das últimas tragédias, é que elas não seguem o tempo ou a lógica dos políticos. Podem acontecer a qualquer momento, e as cidades têm de estar preparadas, especialmente para fenômenos que se repetem. Veja-se o exemplo de Niterói, onde uma pedra rolou, no Morro da Boa Esperança, em 10 de novembro, matando 15 pessoas. Em 2016, a prefeitura havia contratado um estudo sobre a situação das encostas, mas o deslizamento ocorreu antes que ele ficasse pronto. A negligência costuma ser fatal.
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