- O Estado de S.Paulo
Não há saídas fáceis para o governo britânico na hora de decidir qual será o destino do Brexit
Depois da rejeição acachapante do acordo do Brexit no Parlamento e depois da rejeição da moção de censura da primeira-ministra Theresa May, o Reino Unido está imerso numa encalacrada. Mas, provavelmente, essa encalacrada funcionará como primeira grande derrota da onda de nacionalismos inconsequentes e de xenofobia que vem se alastrando pela Europa e pelos Estados Unidos.
Tudo começou com um erro de cálculo do então primeiro-ministro David Cameron que, em 2016, convocou um plebiscito para rejeitar de uma vez a separação da União Europeia e varrer do espectro político a guinada à direita que crescia no Reino Unido. Mas Cameron havia subestimado a insatisfação dos eleitores. A decisão de colocar em marcha o Brexit foi aprovada por 52% e não houve remédio senão iniciar a negociação dos termos do divórcio com a União Europeia.
De lá para cá, se houve alguma novidade foi a de que a população tomou consciência de que os custos de uma separação, ainda que amigável, são muito mais altos do que as limitações à soberania e os preços a pagar pela integração econômica, política e social cobrados pela União Europeia.
Os estados nacionais já não conseguem entregar os benefícios do bem-estar social prometidos a seus cidadãos; a indústria migra para onde os custos da mão de obra são mais baixos; e a maior facilidade das comunicações e dos transportes favorece a migração dos povos e mina a zona de conforto das populações locais. Mas isso tem a ver com as grandes mudanças demográficas e tecnológicas que tomaram a economia mundial – e não com a drenagem de renda proporcionada pela globalização.
A rejeição do acordo do Brexit não deixa saídas fáceis. Há quem defenda um novo acordo, uma solução improvável quando ninguém até agora apresentou plano melhor do que o apresentado pela primeira-ministra Theresa May e quando não há disposição dos sócios da União Europeia de novas concessões relevantes ao Reino Unido. Em todo o caso, é preciso ver o plano B que May prometeu apresentar nesta segunda-feira.
Outra saída seria o Brexit duro, a separação unilateral, sem acordo. Opção caótica de enormes custos econômicos e sociais que, além disso, não apontaria nenhuma solução para a questão das fronteiras entre as duas Irlandas nem para a situação dos cidadãos do Reino Unido que vivem na União Europeia ou dos cidadãos da União Europeia que vivem no Reino Unido.
Há quem defenda a convocação de novo plebiscito para revogar o anterior e sacramentar a desistência do Brexit. Como, no entanto, garantir o resultado desejado e evitar que se repita a surpresa eleitoral que vitimou Cameron?
A ideia de adiar os efeitos do artigo 50 do Tratado de Lisboa e com ele a data-limite (29 de março) para o início do Brexit só faria sentido se houvessem condições para novo acordo e, outra vez, se os ingleses tivessem clareza sobre as condições da separação.
Os demais movimentos separatistas ou as direitas nacionalistas baseiam-se no pressuposto de que a integração não presta. Agora se vê que os custos dessa independência são mais insuportáveis. A conclusão parece inevitável: quando não há coisa melhor, mantenham-se as condições da união conjugal.
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