- Folha de S. Paulo
Trump e 'brexit' servem de alerta sobre os entraves às plataformas de campanha
O Reino Unido tem uma líder morta-viva, segundo a oposição. Theresa May continua no cargo de primeira-ministra, mas sofreu uma derrota humilhante em sua articulação para tirar o país da União Europeia. “Não há dúvida de que este é um governo zumbi”, disse Jeremy Corbyn, do Partido Trabalhista.
O impasse a que chegaram os britânicos e a paralisia provocada nos EUA pelo conflito sobre a construção do muro na fronteira com o México são exemplos práticos de choques de expectativas políticas.
May se tornou primeira-ministra depois da surpreendente votação a favor do “brexit”. Donald Trump ganhou tração entre os americanos com seu discurso anti-imigração. Os dois tomaram impulso nas urnas e tentaram um salto, mas havia um abismo entre a plataforma eleitoral e as medidas concretas.
Parecia decidido que o Reino Unido daria uma guinada em 2016, quando 51,9% dos eleitores decidiram que o país deveria deixar o bloco europeu. May assumiu o poder para implantar o processo de saída, mas não conseguiu entregar o produto.
Após dois anos de derrotas e embates com o Parlamento, a população se frustrou. Atualmente, 59% dos britânicos dizem que preferem ficar na UE, segundo pesquisa do YouGov.
Resultados eleitorais podem dar a governantes vitoriosos uma sensação prazerosa de onipotência, mas o duro trabalho de negociação e o próprio sistema de contrapesos da política costumam quebrar o encanto.
Trump emergiu da eleição como um líder improvável, mas popular. Agora, enfrenta a maior paralisia de serviços públicos da história dos EUA devido à recusa do Congresso em dar aval a uma de suas mais emblemáticas promessas de campanha: a construção do muro de US$ 5,7 bilhões entre o país e o México.
A vitória de Jair Bolsonaro foi comparada aos triunfos do “brexit” e de Trump, já que o brasileiro também explorou a plataforma de rejeição ao establishment para se eleger. Britânicos e americanos mostram que é preciso enfrentar o mundo da política.
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