quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

O real custo do Brexit começa a aparecer para os britânicos: Editorial | O Globo

Theresa May sobrevive à moção de desconfiança e precisaria trabalhar por um novo referendo

A prevista derrota no Parlamento da proposta de acordo tecida por Theresa May junto à UE é mais um passo para esclarecer a todos os britânicos que o projeto de separação do Reino Unido da União Europeia não passa de uma intenção de cunho ultranacionalista, xenófobo, cujo custo de execução é muito alto. O projeto não se sustenta no momento histórico, de globalização e integração. Tem o mesmo conteúdo ideológico do trumpismo, causa de sérias fricções nos Estados Unidos e no mundo. E o Brasil de Bolsonaro começa a ver de perto o que isso significa.

A premier sobreviveu ontem a um voto de desconfiança proposto pelo Partido Trabalhista, de oposição, porém May e os políticos britânicos precisam tomar graves decisões.

Ainda não há maioria para tal, mas a convocação de novo referendo é a alternativa indicada para tirar a Grã-Bretanha do beco sem saída. Ou melhor, cuja única saída parece ser o desligamento do bloco, em 29 de março, sem qualquer acordo, o que irá transformar a fronteira com a UE em caos: bloqueio de pessoas e mercadorias, além de problemas nas operações financeiras com o continente, de consequências inimagináveis. O próprio BC britânico prevê uma recessão igual à ocorrida no estouro da crise financeira-imobiliária americana, a partir de 2008/9.

Há a alternativa de pedido de mais prazo, para além de 29 de março, a fim de que se costure um entendimento razoável sobre o desacoplamento da UE, com soluções para problemas sérios, como evitar a volta de uma fronteira física entre Irlanda do Norte e a República da Irlanda, esta independente e parte da UE. Voltar o controle entre as duas Irlandas será um revés incalculável ao acordo de paz firmado entre católicos e protestantes em 1998. Mas um eventual adiamento precisaria do voto dos 27 membros do bloco europeu, para o qual, é verdade, também não interessa o caos.

Este é mais um forte motivo para novo referendo. O de 2016, convocado pelo primeiro-ministro David Cameron, também conservador, mas que não esperava que o Brexit ganhasse — e venceu por estreita margem, 52% a 48% —, foi realizado sem que a população tivesse noção das consequências práticas do divórcio. Entende-se por que os mais idosos preponderaram sobre os jovens na aprovação do Brexit. Foram facilmente convencidos por discursos populistas que prometiam a volta a um passado irreal de glórias britânicas e de fronteiras fechadas. Enquanto hoje há 1,6 milhão de jovens britânicos que não votaram no plebiscito de 2016. Daí a resistência de brexistas a um novo referendo.

Mas seria a melhor alternativa, por ser a forma mais democrática de romper o impasse.

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