Por Isadora Peron | Valor Econômico
BRASÍLIA- Principal nome do Rede Sustentabilidade, a ex-ministra Marina Silva resiste em por um fim à legenda e diz que o fato de eles ficarem sem recursos do fundo partidário não é "determinante" para definir se o partido deve ou não ser incorporado a outra legenda, como o PPS.
Em entrevista ao Valor, Marina afirma que, diante do novo governo de Jair Bolsonaro, é preciso levar em conta a importância que o partido vai ter no debate político, especialmente no campo da defesa do meio ambiente.
"No momento em que a agenda ambiental está sendo estilhaçada, a Rede tem um papel histórico para cumprir e não vai ser por causa de fundo partidário que vai abrir mão disso. O nosso legado é um legado que está vivo, mesmo não tendo feito a cláusula de barreira", diz.
A decisão sobre o futuro do Rede dividiu o partido. A militância pressionou e a Executiva da sigla teve que adiar para março o congresso nacional que irá discutir o assunto. O encontro seria realizado este fim de semana, em Brasília.
Até o fim do ano, a incorporação do partido de Marina pelo PPS era dada como certa, já que o Rede não atingiu a cláusula de barreira e enfrentará uma série de restrições - especialmente a falta de recursos - se decidir manter a atividade partidária.
Para a ex-ministra, com exceção da disputa presidencial, em que ela alcançou apenas 1% dos votos, o Rede teve um bom desempenho nas eleições, levando em conta que o partido tem apenas três anos de existência e participou da sua primeira eleição nacional. "Eleger cinco senadores, sem dinheiro, sem tempo de televisão, é uma demonstração de que ter um partido que tem um compromisso programático e que abre espaço para novas liderança, é possível, a sociedade quer isso", diz.
Em novembro do ano passado, porém, um dos eleitos pela sigla, o delegado Alessandro Vieira, do Sergipe, já se filiou ao PPS, por considerar o futuro do Rede insustentável.
Na Câmara, porém, a sigla teve um desempenho pífio e elegeu apenas uma deputada federal, a indígena Joenia Wapichana (RR). Pelas regras definidas pela reforma eleitoral de 2017, para superar a cláusula de barreira, um partido deveria eleger deputados em pelo menos nove Estados ou obter 1,5% dos votos para a Câmara, com um mínimo de 1% dos votos em nove Estados.
Para Marina, os grandes partidos trabalharam para fechar "todos os respiradouros" e asfixiar novas legendas como o Rede, que obteve o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2015. Por isso, ela não descarta a possibilidade de haver algum tipo de fusão com PPS, pois os dois partidos convergem em termos programáticos, mas defende que o ideal seria encontrar uma forma para que eles atuassem juntos em um bloco no Congresso.
Além das restrições para repasse do fundo partidário, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), determinou que as legendas que não alcançaram a cláusula de barreira não podem ter liderança e nem lugar nas comissões temáticas, o que limita a atuação parlamentar. O Rede já acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar reverter essa decisão.
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