Primeiro encontro entre os dois presidentes estabelece agenda estratégica para o continente
É boa notícia a sintonia demonstrada pelos presidentes do Brasil e da Argentina para a estabilização política e econômica da América do Sul. Jair Bolsonaro e Mauricio Macri chefiam governos de duas nações que, pela geografia, estão condenadas a se entender, e, juntas, têm peso decisivo no rumo da economia sul-americana.
Ao receber Macri, quarta-feira em Brasília, Bolsonaro sugeriu uma agenda ilimitada para negociações sob o guarda-chuva do Tratado do Mercosul, cujo dinamismo “não vem só da proximidade geográfica”, comentou, porque, “sem a identidade de valores na nossa sociedade, nunca teríamos avançado tanto em nossa parceria.” E acrescentou: “Buscamos um Estado eficiente e um setor privado pujante, um ambiente que favoreça o empreendedor e uma abertura maior do mercado”.
O presidente argentino, por sua vez, lembrou o equívoco na opção de relações multilaterais do bloco baseadas no protecionismo. “Protegíamos o crescimento, mas isso não funcionou”, disse. “Aconteceu o contrário, nossos países ficaram atrasados”. Não há dúvida.
Cabe destacar que ambos os chefes de governo tenham ressaltado em seus pronunciamentos um tom de sinceridade ao indicar a disposição de reconstruir o Mercosul, “para que tenha relevância e sentido”, como disse Bolsonaro, “valorizando” seus princípios originais, “a abertura comercial e a redução de barreiras e burocracia”. Macri não apenas concordou, como indicou o rumo combinado: “Avançar para uma espécie de integração que se adapte aos desafios do século XXI.”
Sócios principais no Mercosul, com Uruguai e Paraguai, os governos brasileiro e argentino definiram um roteiro de flexibilização. Menos rigidez no bloco é necessária para permitir entendimentos bilaterais.
Agora, o esforço em Brasília e em Buenos Aires estará direcionado para encontrar, com rapidez, respostas objetivas a questões como o destino imediato do acordo de livre comércio em negociação com a União Europeia; a agenda comum com os países da Aliança do Pacífico; e a opção entre o atual regime de união aduaneira ou de zona de livre comércio, entre outros aspectos.
Bolsonaro e Macri têm em comum o fato de que devem as respectivas eleições à insatisfação da maioria dos eleitores com forças políticas carcomidas, dominantes no Brasil e na Argentina na última década e meia. Por isso, não precisaram de muito tempo para verificar a coincidência de posições sobre o colapso da Venezuela, reconhecendo a Assembleia Nacional como única instituição legítima daquele país. Mantiveram-se firmes na opção comum pela pressão política para uma transição pacífica, distanciados de delírios como intervenção militar e, também, das sugestões para sanções econômicas que agravem a crise humanitária venezuelana. É , enfim, um bom começo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário