O Banco Central (BC) prevê a entrada de US$ 90 bilhões em investimentos diretos no país neste ano. Se o número se confirmar, representará ligeira elevação em comparação com os US$ 88,3 bilhões de 2018 e o maior volume desde 2012, quando US$ 93 bilhões foram investidos por estrangeiros no país. O Brasil já chegou a receber mais de US$ 100 bilhões em capital de longo prazo num único ano, 2011. Mas os investidores se retraíram nos últimos anos, com o agravamento da crise fiscal e, mais recentemente, com as turbulências políticas. Em 2015, entraram apenas US$ 60,3 bilhões. Em 2016, foram US$ 73 bilhões.
O investimento direto registrado em 2018, 25,4% acima do ano anterior, superou as expectativas do BC. Contribuíram para isso recursos atraídos pelas privatizações e concessões, mas também projetos privados, nos setores de petróleo, papel e celulose, telecomunicações, extração mineral e eletricidade e gás. Entram na conta os empréstimos intercompanhias, em particular de filiais no exterior para matrizes no Brasil, que somaram US$ 32,3 bilhões.
O capital externo foi mais do que suficiente para cobrir com folga o déficit em conta corrente, que atingiu US$ 14,5 bilhões, o dobro do ano anterior, em consequência da retomada do crescimento econômico, o que acabou ampliando as importações e a demanda por serviços no exterior. O saldo da balança comercial ficou em US$ 54 bilhões, US$ 10 bilhões a menos do que em 2017. A previsão para o déficit em conta corrente deste ano é maior, chegando a US$ 35,6 bilhões, por conta do aumento da atividade econômica. Se o volume estimado para o investimento direto se confirmar, novamente vai cobrir essas despesas.
Mais sensíveis ao cenário instável foram os investimentos em ativos financeiros. Dados do BC mostram que as saídas líquidas de investimento estrangeiro em carteira no mercado doméstico somaram US$ 12 bilhões no ano passado, dos quais US$ 4,5 bilhões apenas em dezembro. As saídas líquidas de instrumentos de portfólio negociados no país concentraram-se em ações e fundos, que passaram de ingressos líquidos de US$ 5,3 bilhões em 2017, para saídas líquidas de US$ 7,7 bilhões em 2018. Já as aplicações em renda fixa perderam US$ 4,3 bilhões. Os resgates de recursos aplicados em ações ficaram no mesmo nível, o que configurou o pior resultado desde 2008, ano da crise global.
O mercado também parece otimista em relação à retomada do interesse do investidor estrangeiro pelas aplicações em ativos financeiros brasileiros. A aposta é que o capital externo Ieve o Ibovespa além da marca dos 100 mil pontos. A escalada do índice entre o fim do ano e janeiro foi basicamente alavancada pelo investidor interno. Já o estrangeiro mais sacou recursos do que trouxe capital novo para o Brasil. Os dados do movimento no câmbio em janeiro mostram alguma melhora, mas nada que justifique maiores otimismos. O saldo do mês, incluindo o dia 1º de fevereiro, ficou em US$ 55 milhões positivos, com o fluxo cambial financeiro positivo em US$ 552 milhões, praticamente empatando com o negativo de US$ 497 milhões das transações financeiras.
As previsões do Banco Central e do mercado no aumento do investimento direto estrangeiro e das aplicações financeiras neste ano podem não se concretizar. Tanto o cenário externo quanto o interno estão indefinidos, levando ao adiamento das decisões. O banco central americano (Federal Reserve) indicou, na última reunião, uma pausa no aumento da taxa de juros do país diante dos sinais de enfraquecimento da economia. Teoricamente, isso pode reforçar o interesse pelos mercados emergentes. Mas o capital flui apenas timidamente. Um dos motivos é a diversidade de opções. O México, por exemplo, com um rating mais elevado do que o brasileiro, paga juros mais altos. Mas acaba de empossar um novo governo de viés esquerdista, visto com cautela pelos investidores. Mesmo assim, os investidores estrangeiros carregam 25,5% da dívida mobiliária mexicana em comparação com 11,22% da brasileira.
No âmbito interno, um dos maiores problemas é a falta de detalhes das reformas econômicas prometidas pelo governo de Bolsonaro, especialmente das novas regras para a aposentadoria, e o desconhecimento da real disposição do Congresso de aprovar as medidas. Disso depende o ritmo de recuperação da economia, que vai influenciar o retorno dos investimentos. Não por acaso, nos últimos dias, algumas instituições financeiras revisaram para baixo suas previsões de crescimento do país neste ano.
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