Há apenas duas mesas em sala de empresa declarada por candidata laranja
João Valadares | Folha de S. Paulo
RECIFE - Em uma pequena sala, com duas mesas e nenhum maquinário para impressões em massa, a gráfica Itapissu, no Recife, amanheceu de porta aberta nesta segunda-feira (11), após a Folha revelar a ausência de sinais de que a empresa tenha trabalhado durante a eleição.
Reportagem deste domingo (10) mostrou que a candidata laranja Maria de Lourdes Paixão, 68, indicada pelo grupo do presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, declarou ter gastado R$ 380 mil de dinheiro públiconessa gráfica a quatro dias da eleição, em outubro do ano passado.
Ela teve somente 274 votos, e não há nenhum sinal de que tenha realizado de fato campanha.
Na semana passada, a reportagem da Folha visitou primeiramente um endereço que consta na nota fiscal da Itapissu, no bairro Arruda, na capital pernambucana, e encontrou apenas uma oficina de carros, que funciona há quase um ano no local.
Funcionários da oficina disseram na ocasião que correspondências com nome da gráfica costumam ser entregues nesse imóvel.
O telefone informado na nota fiscal não existe.
Já outro endereço atribuído à gráfica, que consta em seus registros na Receita Federal e que foi visitado pela reportagem nesta segunda, esteve fechado em dois dias da semana passada, quando a Folha também foi ao local.
Maria de Lourdes Paixão virou de última hora candidata a deputada federal para preencher vagas de cota feminina e foi a terceira que mais recebeu dinheiro público do PSL em todo país, mais que o próprio presidente Jair Bolsonaro.
No imóvel informado na Receita, localizado no número 345 da avenida Santos Dumont, há um café instalado no térreo e um espaço para aulas de reforço. Não há máquinas para impressão de material de campanha.
Em entrevista à Folha na semana passada, o presidente do PSL, Luciano Bivar, que também é deputado federal por Pernambuco, afirmou que, se a reportagem fosse ao local, iria encontrar todas as máquinas. "Se não tiver máquina, você pode escrever que eu sou um mentiroso amanhã."
Na manhã desta segunda-feira, na sala atribuída à gráfica havia apenas um homem. Ele não quis se identificar.
Questionado desde quando estavam instalados naquele local, disse, inicialmente, que a gráfica sempre funcionou lá. Após a Folha questioná-lo sobre a data precisa, afirmou que não falaria mais nada.
Ele também não quis informar se era funcionário ou dono da empresa. "Não vou falar nada. Ligue para o nosso advogado e ele vai informar tudo", disse.
Procurado, o advogado Paulo José Canizzarro afirmou nesta segunda-feira que a sala poderia ser apenas o escritório da gráfica. "Não necessariamente é lá onde se roda o material. A Folha de S. Paulo deve rodar o jornal em outro lugar, por exemplo", disse.
Questionado então sobre onde o material de campanha era impresso, não quis informar. Alegou que não tinha autorização do cliente para repassar essa informação.
O advogado comunicou que a empresa já emitiu uma nota oficial e que essa questão específica só será respondida no momento em que as autoridades competentes notificá-los.
Diferentemente de outra suspeita de candidaturas de laranjas do PSL, em Minas, no caso de Pernambuco não há nenhuma notícia de investigação em andamento a respeito.
Hospitalizado, o presidente Bolsonaro ainda não se pronunciou sobre o tema.
Ele tem feito declarações por meio de redes sociais, mas não comentou o assunto até o momento. Hamilton Mourão, vice-presidente da República, afirmou, no caso das candidaturas de Minas, que, se for verdade, "é grave".
O caso de Minas envolve o atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que era o principal dirigente do PSL do estado.
Sergio Moro, ministro da Justiça, afirmou, também sobre o colega de ministério, que o caso será apurado "se surgir a necessidade".
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