- O Estado de S.Paulo
O emprego melhorou alguma coisa em 2018, atestam os números da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), na medida em que a média do ano foi de desocupação de 12,3%, algo mais baixa do que os 12,7% do ano anterior. Mas o último trimestre do ano já acusa desocupação (desemprego) de 11,6% da força de trabalho que fechou o ano com 104,7 milhões. Ou seja, 12,2 milhões de pessoas não tinham como se sustentar com seu trabalho.
Vistas as coisas, a percepção é de que a economia continua avançando muito aquém da velocidade de cruzeiro que garanta criação sustentável de postos de trabalho. A tendência é a de que as condições continuem melhorando na medida em que a atividade econômica (evolução do PIB) deslanche. Mas há outras considerações a fazer sobre as condições do mercado de trabalho.
Uma delas tem a ver com a informalidade. Para a Pnad, há 11,5 milhões trabalhando no setor privado sem registro em carteira. E a ocupação por conta própria (autônomos) alcança 23,8 milhões. Esses dois segmentos se misturam. Muita gente que trabalha na informalidade também trabalha por conta própria, na base dos bicos, nas “virações” e nas tarefas aleatórias. A Pnad identifica 27 milhões como trabalhadores subutilizados. Pelos critérios da consultoria Tendências, a informalidade, principal via de acesso ao mercado de trabalho alcança 41,1% da população ocupada.
Mas o entendimento dos conceitos e das classificações vai sendo prejudicado porque o mercado passa por rápidas transformações, como esta Coluna tem comentado. A adoção da tecnologia da informação (internet e aplicativos) e, mesmo, a grande disseminação do telefone celular não só vêm abrindo portas de ocupação, mas, também, têm proporcionado aumento da produtividade da mão de obra. Encanadores, eletricistas, pequenos empreiteiros, manicures, entregadores, etc., já não precisam voltar às suas bases logo depois de executada uma tarefa. Podem agendar e coordenar sua atividade e, assim, tendem a melhorar a qualidade do atendimento. Os 600 mil que passaram a trabalhar com o Uber no Brasil e o contingente também expressivo (embora não revelado) que opera no Cabify constituem segmento que permitiu a flexibilização das atividades e do tempo de trabalho. Também dão ideia do que é a ocupação “sem patrão” e as mudanças no mercado de trabalho.
A partir daí, o que era entendido como população autônoma ganha outra dimensão. A busca de um emprego, com carteira registrada e tudo o mais, já vai deixando de ser objetivo de um profissional.
Cada vez mais, as pessoas querem um trabalho por conta própria, abrir seu próprio negócio e deixar de depender de um empregador que impõe horários e condições. Na medida em que esse processo vai se intensificando, fica difícil uma classificação mais precisa. É compreensível que cada vez mais gente já não trabalhe em empresa, embora não se tenha firmado como autônomos ou como micro e pequenos empresários.
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