- O Globo
Veterano em escândalos, Renan se agarrou à cadeira e engavetou uma dezena de inquéritos. Agora tenta presidir o Senado pela quinta vez
Ontem à tarde, Renan Calheiros ouviu os últimos apelos para desistir de sua ideia fixa. “Você está jogando perigosamente”, alertou um colega, em mensagem de celular. “Vai bater de frente com um trem em alta velocidade”, disse outro, pessoalmente.
O alagoano ignorou todos os avisos. Hoje será candidato a presidir o Senado pela quinta vez. Concorrerá contra a vontade do Planalto e pressão da opinião pública, que o vê como símbolo da velha política. Mesmo assim, é tido como favorito se a votação não for aberta.
Renan é um sobrevivente. Em 2007, escapou da cassação por seis votos. Em 2016, rebelou-se contra uma decisão do Supremo quede terminavas eu afastamento. Amarrou-se à cadeira e fez o tribunal engolir o motim.
No ano passado, o alagoano resistiu à onda de renovação que varreu congressistas enrolados coma Justiça. Enquanto figuras como Eunício Oliveira, Romero Jucá e Edison Lobão foram derrotados nas urnas, ele conseguiu renovar o mandato e o foro privilegiado.
O senador também tem vencido a guerra contra a Lava-Jato. De 18 inquéritos abertos no Supremo, dez já foram arquivados. Ao desafiar o Ministério Público, ele reforçou a popularidade entre os colegas. Virou presidente do sindicato dos investigados.
Sua capacidade de sobrevivência está ligada ao faro político aguçado. Renan esteve ao lado de FH, que o nomeou ministro da Justiça, e de Lula, de quem virou amigo de infância. Apoiou Collor e Dilma na bonança e os abandonou às vésperas do impeachment.
Em 2018, o senador gritou “Lula livre” e pediu votos para Haddad. Nos últimos dias, passou a elogiar Bolsonaro, que fazia planos de dizimá-lo. Ontem o presidente ligou do hospital para lhe desejar boa sorte.
O ministro do Meio Ambiente foi condenado por fraude ambiental. O ministro da Educação disse que as universidades são só para a elite. Agora a ministra da Família é suspeita de raptar uma criança indígena. Por sorte, o ministro da Ciência e Tecnologia já foi ao espaço. Será mais difícil ouvi-lo dizer que a Terra é plana.
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