Por Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto | Valor Econômico
BRASÍLIA - Com a base aliada desarticulada, deputados governistas não tiveram sucesso em blindar o Planalto na Câmara. Os parlamentares alinhados ao presidente Jair Bolsonaro enfrentam dificuldades para conseguir as 171 assinaturas necessárias para protocolar cinco Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) na Câmara, número máximo que o regimento permite. A estratégia era não deixar espaço para a oposição. Mas os situacionistas conseguiram protocolar apenas três CPIs, o que abre uma janela para a oposição criar duas.
Parlamentares da base aliada e do próprio PSL atribuem as dificuldades à pouca eficiência do líder do governo na Casa, Major Vitor Hugo (GO), em construir uma base aliada mais consistente - o que poderia facilitar o trabalho deles na coleta de assinaturas. Segundo fontes, o governo sugeriu que os deputados aliados apresentassem pelo menos sete CPIs.
Após uma semana do início dos trabalhos, apenas três conseguiram adesão suficiente: para investigar as causas da tragédia de Brumadinho e fiscalizar a situação de obras semelhantes no país, da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP); para apurar empréstimos externos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), realizados entre 2003 e 2015 para países como Venezuela e Cuba, do deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP); e para investigar os gastos do governo federal com publicidade estatal nos últimos anos, da deputada Caroline de Toni (PSL-SC).
Na oposição, o PT está investindo em dois temas: uma CPI sobre as movimentações financeiras atípicas de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) à época em que o parlamentar estava na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e outra sobre caixa dois para fake news e distribuição de conteúdo no WhatsApp na campanha presidencial.
Correligionários de Major Vitor Hugo avaliam que o fiasco da base na tentativa de criar comissões para apurar denúncias é reflexo do fracasso do líder do governo em suas investidas para engordar a aliança em torno do governo. Na semana passada, as dificuldades de articulação do líder do governo ficaram evidentes, após uma reunião convocada por ele ter ficado esvaziada - na ocasião, apenas sete líderes compareceram.
O episódio somado às dificuldades dos parlamentares de conseguirem assinaturas da CPI sustentam as apostas de que o líder do governo na Casa não sobreviverá no posto por muito tempo. Aliados de Bolsonaro acreditam que o presidente o substituirá assim que retomar os trabalhos em Brasília.
Ao Valor, Major Vitor Hugo afirmou que não teme perder o cargo e disse ter sido pego de surpreso com o pedido de Bolsonaro para que o porta-voz Otávio do Rego Barros saísse em sua defesa. "É natural que a construção da base se dê a partir de aproximações sucessivas. Já conversei com 90% dos líderes de partidos que podem ser da base aliada. Todos manifestaram interesse em andar com o governo", disse Major Vitor Hugo.
"Não tenho qualquer indício de que esteja sendo vítima de perseguição. Contato nos bastidores com os líderes, mesmo após declarações contrárias a mim, é bom. Não tenho nenhum temor de demissão. O presidente, inclusive, sem que eu pedisse, falou para o porta-voz para que ele declarasse que mantém sua confiança em mim".
Nos bastidores, o líder do governo na Câmara tem atribuído o comportamento de parlamentares do PSL a uma mágoa por ele ter sido escolhido para liderar a base - vários correligionários chegaram a sinalizar aos eleitores que poderiam ocupar o cargo e ficaram frustrados com a decisão de Bolsonaro. Em relação à resistência de outros partidos para compor a base, o líder do governo tem afirmado, em conversas reservadas, que isso pode ser explicado pelo fato de Bolsonaro ter sido eleito sem coligações. Com isso, as legendas condicionam as conversas para integrarem a base a concessões do mandatário.
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