Além de não ter presidências, partidos têm menor participação em cargos de direção no Congresso
Renata Agostini e Ricardo Galhardo | O Estado de S.Paulo
Após três décadas ditando os rumos da política no País, MDB, PT e PSDB viram-se apeados não apenas da presidência das duas Casas legislativas, mas também dos cargos da Mesa Diretora da Câmara. É a primeira vez desde a redemocratização que as três siglas, que concentram o maior número de filiados, ficam de fora dos postos de comando da Casa.
As legendas tiveram de se contentar com vagas de suplência para que não ficassem totalmente alijadas do arranjo capitaneado por Rodrigo Maia (DEM-RJ). Em outro lance, o PT ainda corre o risco de perder a liderança da minoria na Casa, por força de pressão de bloco encabeçado por PDT e PCdoB.
No Senado, o desenho final costurado por Davi Alcolumbre (DEM-AP) ajudou a atenuar a perda de espaço do PSDB, que conquistou a 1.ª vice-presidência. O MDB, que mirava a presidência com Renan Calheiros, acabou ficando com uma das secretarias. Já o PT perdeu a 1.ª secretaria e passou a ter a 3.ª suplência da Mesa.
Cabe à Mesa Diretora dirigir os trabalhos legislativos. Esses cargos também concentram poderes como examinar ressarcimentos de despesas médicas, pedidos de passagens áreas e emissão de passaportes diplomáticos. Além de conferir prestígio, são vagas importantes para os partidos tendo em vista os cargos de assessoria a que têm direito.
O ocaso de PT, MDB e PSDB na Câmara é visto como reflexo do desempenho que tiveram nas urnas e de erros de estratégia após a eleição, segundo parlamentares ouvidos pelo Estado. “Novas forças políticas emergiram. Estamos na Legislatura do ‘se vira nos trinta’, diversas bancadas com cerca de 30 deputados. Isso alterou também o peso de cada partido na hora da negociação”, diz Marcos Pereira (PRB-SP), deputado em primeiro mandato e que foi eleito 1.º vice-presidente da Câmara.
O MDB, que já teve a maior bancada da Casa, foi o que mais minguou na última eleição: saiu de 66 eleitos, em 2014, para 34 em 2018. Hesitou em unir-se ao bloco costurado por Maia, selando o apoio somente às vésperas da eleição, quando as principais vagas da Mesa já haviam sido negociadas. Ficou com uma suplência e ainda disputa nos bastidores a presidência de uma comissão importante. Desde a Constituinte, o partido jamais ficara sem um posto na Mesa Diretora. “Tinham a fonte a seu lado, não deram bola, e agora terão de se contentar com um copo d’água”, diz o deputado Hugo Leal, do PSD, um dos primeiros partidos a fechar com Maia.
Acordos. Maia começou a costurar acordos para se manter na presidência ainda no ano passado. Entrou em 2019 com acertos adiantados com Gilberto Kassab (PSD) e Valdemar Costa Neto (PR). Sem um nome competitivo, o PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, desistiu de tentar a presidência e fechou acordo com Maia em troca de um lugar na mesa e da presidência das comissões de maior relevo da Casa. Foi a senha para que outras siglas, como o PRB, se unissem ao bloco.
O PSDB até correu para se acertar com Maia logo nos primeiros dias do ano, mas seu poder de fogo estava limitado. Com 54 deputados e a 3.ª maior bancada na Legislatura passada, os tucanos chegaram em 2019 com 29 parlamentares, a 8.ª maior bancada. “A negociação política permitiu que o PSDB não perdesse tanto espaço”, diz Carlos Sampaio, líder do partido na Câmara. Segundo ele, o PSDB terá nomes em comissões e outros cargos da Casa. Desde sua fundação, em 1988, o PSDB só ficara uma vez sem cargo na mesa, na presidência de Ibsen Pinheiro, em 1991.
Mesmo tendo eleito a maior bancada no ano passado, com 56 deputados, o PT ficou apenas com uma vaga de suplente na mesa e deve ter o comando de uma comissão de menor importância. Manteve, assim, situação da Legislatura passada. Desde 1997, quando passou a ter cargo na Mesa Diretora, o PT experimentara dois hiatos: de 2005 a 2007, quando Severino Cavalcanti (PP-PE) foi eleito, alijando o partido do então governo do comando, e de 2015 para cá, com as eleições de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Maia.
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