- Folha de S. Paulo
Brasil tem desempenho péssimo no controle do que pode machucar, matar e destruir
Duas ondas ciclópicas de rejeitos de mineração despejadas sobre vítimas desavisadas, incêndios mortais numa boate e num centro de treinamento de futebol, viadutos apodrecidos na capital federal e na maior metrópole do país.
A cada verão, vidas se perdem em deslizamentos e enchentes. A cada ano, há 60 mil assassinados, 40 mil mortos no trânsito e um múltiplo disso tudo de gente com sequelas.
Temos nos desempenhado pessimamente no controle daquilo que pode machucar, matar e destruir.
Os seres humanos, mesmo os mais instruídos, não lidam bem com o cálculo probabilístico. Tendem a superestimar as chances de algo dar certo e subestimar o risco do fracasso.
Ponderar o tamanho do estrago pela sua frequência estipulada é ainda mais difícil. Garantir que as informações fluam com eficácia para a tomada tempestiva da decisão protetora constitui outra faculdade distante das nossas fronteiras pessoais.
Cabe às instituições —a família, a empresa, o governo— estruturar os incentivos para que os indivíduos não se arrisquem pouco nem demais.
Às vezes, o egoísmo pode ser usado para uma finalidade virtuosa, como na invenção do poder político tripartite no Ocidente. Ao agir em causa própria, cada corpo controla o potencial despótico dos demais.
No Brasil, centros de decisão do Estado são infiltrados por agentes em conflito de interesse. Grandes empresas ou não sabem o que ocorre de arriscado em suas dependências ou não se equipam para reagir a tempo. A fiscalização descamba para o burocratismo estéril da papelada.
Em meio à inépcia organizacional, campeia o clamor por justiçamento. O engenheiro que assinou o laudo vai para a cadeia antes de se apurarem causas e responsabilidades.
Sem recrutar o melhor saber técnico à disposição para compreender o que aconteceu, as respostas regulatórias não passam de palpites aleatórios. Não previnem a ocorrência de outras desgraças. Perpetua-se, desse modo, o ciclo dos massacres.
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