Como se previa, filhos de Bolsonaro causam mais prejuízos à imagem do governo do que toda a oposição
Não há registro de grandes casos de sucesso quando laços de sangue pesam mais que currículos como passaporte de entrada em palácios. A desenvoltura e o estilo com que filhos de Jair Bolsonaro transitavam na campanha do pai justificaram apostas em que, eleito, o ex-capitão encontraria dentro de casa razões para se preocupar.
Apostas certeiras. Areação extemporânea do vereador Carlos Bolsonaro, o 02 no jargão de caserna da família, contra o ministro Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, gerou uma crise desnecessária dentro do Palácio, enquanto o pai recebia alta em São Paulo. E aumentou as preocupações dos militares que se encontram no primeiro escalão do governo coma confirmação da imprevisibilidade deste núcleo familiar do presidente.
O caso por trás do ataque ao ministro não é simples. No fim de semana, o jornal “Folha de S.Paulo” revelou a existência, em Pernambuco, de pelo menos uma candidata laranja na campanha a deputado pelo PSL. O partido, por alegada decisão de Bebianno, liberou do caixa eleitoral R$ 400 mil para ela, dinheiro pago a uma gráfica inexistente. Esquema seguido, também, na campanha de Dilma à reeleição. Os modelos da roubalheira eleitoral se repetem.
Bebianno, numa tentativa de demonstração de força, disse que falara com o presidente sobre o assunto. Carlos, no estilo já conhecido, colocou nas redes áudio da conversa, em que o presidente se recusa a tratar de qualquer tema como ministro, sob ajusta alegação de ainda estar hospitalizado. E Bolsonaro confirmou Carlos.
A história de candidaturas laranjas é grave, particularmente em um partido que amealhou votos com forte discurso anticorrupção. Mas há um outro ponto: o mal-estar não existiria, e o assunto poderia ser tratado pelas vias normais par acasos do tipo, se um filho do presidente não tivesse acesso a todos os contatos feitos como pai. O potencial de confusão é enorme, e põe em risco questões de Estado.
O 02 já esbarrara em Bebianno na campanha, por este ter sido o autor do convite a que Marcos Carvalho, de uma agência, fosse responsável pelo suporte digital a Bolsonaro, depois de eleito. Como se trata de área de atuação do vereador, Carvalho foi afastado. Até que Bebianno entrou por inteiro no campo de tiro de 02.
A lógica com que parentes atuam no poder não é simples. Pode haver alguma matéria delicada no Congresso, mas se um filho decide atacar um parlamentar de peso por alguma razão familiar subjetiva, o fará. É impossível separar o vereador Carlos, o senador Flávio (01) e o deputado federal, por São Paulo, Eduardo, o 03, da figura do presidente. O que fizerem de errado lançará estilhaços na Presidência.
A história enrolada e inconclusa do dinheiro estranho que circulou nas contas de Queiroz, assessor de Flávio na Alerj, e mesmo os negócios imobiliários do hoje senador provam isso.
Não bastassem todas as dificuldades com que governo se depara — reformas, crise de segurança pública etc. — ainda é crucial que se construa um arranjo com o presidente e família, para que ele e o governo não sejam vítimas de fogo amigo pesado.
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