- Folha de S. Paulo
Ressalvas do presidente até a última hora mostram que negociação política será custosa
Jair Bolsonaro se comportou como um líder hesitante até definir sua proposta de reforma da Previdência. Na véspera de bater o martelo, admitiu com certo pesar que “nem gostaria” de fazer a mudança. “Mas sou obrigado a fazê-la. Do contrário, o país quebrará”, completou.
A resistência demonstrada pelo presidente em relação a um ajuste rigoroso deve ter reflexos no Congresso. Durante a elaboração do texto, o próprio Bolsonaro expôs publicamente sua relutância em relação a diversos pontos da reforma. A atitude pode contaminar a visão dos parlamentares sobre o tema.
Um dia antes de definir a idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres, o presidente disse numa entrevista que esses números poderiam ficar em 62 e 57. Ao expor a hipótese, Bolsonaro deu guarida a deputados e senadores que gostariam de pleitear a redução.
Nas discussões sobre a reforma, Bolsonaro se esforçava para demonstrar sensibilidade social. Afirmou que o ajuste não pode “matar idosos” e usou dados distorcidos de expectativa de vida para justificar uma idade de aposentadoria menor. Agora, esses argumentos serão aproveitados com gosto pela oposição.
Com três décadas de vida no Congresso, o presidente foi o primeiro teste de articulação política da reforma. A equipe econômica conquistou uma vitória ao fechar um acordo em torno do texto, mas o debate também revelou os custos da negociação. Se o próprio presidente fazia ressalvas até a última hora, não se deve esperar caminho livre nem entre os aliados mais fiéis do governo.
Quando estava prestes a escorregar do precipício, Gustavo Bebianno se agarrou ao presidente. Nas últimas 24 horas, o ministro atacou Carlos Bolsonaro (a quem chamou indiretamente de moleque) e transferiu as suspeitas sobre o laranjal do PSL para outros dirigentes do partido. Em algum momento, Jair precisará exercer autoridade e decidir se algum deles será atirado do penhasco.
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