Preocupados com reforma da Previdência, equipe econômica e políticos defendem a permanência do ministro no Planalto
Desgastado após ser chamado de mentiroso por Carlos Bolsonaro e ter sua permanência no governo colocada em dúvida pelo presidente Jair Bolsonaro, o ministro Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, recebeu o apoio de integrantes da equipe econômica e de militares, de parlamentares do PSL, seu partido, e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. “Se ele (Bolsonaro) está com problema, deve comandar a solução, e não misturar a família, porque isso gera insegurança”, disse Maia à GloboNews. Para ele, a queda do ministro atrapalharia a reforma da Previdência.
Bebianno dobra aposta com Carlos
Ministro recebe apoio de parlamentares e reafirma que não pedirá para sair
Jussara Soares, Amanda Almeida e Marcello Corrêa | O Globo
BRASÍLIA - Após ser chamado de mentiroso e de ter sua permanência no governo colocada em xeque pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, recebeu ontem o apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de parlamentares do PSL, seu partido, de integrantes da ala militar e da equipe econômica do governo.
Boa parte da frente que se formou em defesa do ministro foi reunida ontem pelo sentimento comum de rejeição ao filho do presidente, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro. Foi ele quem deflagrou a crise, ao expor na internet informações privadas da relação de Bolsonaro com Bebianno no Planalto.
O grupo entende que há uma sensação de que Bolsonaro permitiu intrigas alimentadas pelo filho. E que essas intrigas atrapalham a estratégia política em um momento crucial para o governo: os ministros tentam articular uma base aliada no Parlamento capaz de votar a proposta de reforma da Previdência que será apresentada nos próximos dias.
Ontem à noite, Bebianno conversou com o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e manteve a decisão de não pedir demissão. Ao colega, ele considerou que sairá fortalecido do episódio.
Líderes partidários lamentaram ontem o fato de o governo estar mergulhado em uma crise no momento em que deveria estar usando suas energias para articular a votação da reforma.
Coube ao presidente da Câmara chamar a atenção do próprio Bolsonaro para o fato de estar colocando os trabalhos no Legislativo em risco, ao usar o filho para aparentemente tentar forçar a demissão de um ministro. Ao GLOBO, Maia classificou o ministro de um “cara ótimo”, um “bom interlocutor que pode continuar ajudando”. Mais cedo, em entrevista à GloboNews, o presidente da Câmara adotou uma postura crítica ao comportamento de Bolsonaro no episódio.
—A impressão que dá é que o presidente está usando o filho para pedir para o Bebianno sair. E ele é presidente da República, não é? Não é mais um deputado — disse Maia (Leia as declarações completas de Maia na página 5).
Além de ser acusado de colocar em risco a pauta do governo, Bolsonaro passou o dia sendo criticado por não separar o lado familiar do papel institucional de presidente. Líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), defendeu um “ajuste” nas relações do presidente com o filho.
— É simplesmente ajustar a sintonia e se distinguir o que é a defesa (do pai), uma manifestação em função do pai, e quais são as atividades, as competências e o tamanho da responsabilidade da Presidência da República —disse o senador.
A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) disse que a crise envolvendo o ministro e o filho do presidente deixou “todo mundo dentro de uma saia muito justa”.
— É preciso que se decida por alguma coisa, seja para um lado, para o outro. O que não dá é para ficar nessa instabilidade, respirando esse ar que é tão denso, tão pesado, que parece que você consegue cortar o ar com a tesoura —afirmou Joice.
Amparado pelo universo político, Bebianno passou o dia recolhido, articulando nos bastidores um plano de reação para permanecer no Palácio do Planalto. A estratégia, elaborada com aliados, parlamentares e até integrantes da ala militar do palácio seguiu duas frentes. Além de buscar apoio político, o ministro palaciano fez movimentos para disseminar na imprensa e entre aliados de Bolsonaro a mensagem de que não pediria demissão e não sairia pela porta dos fundos do Planalto. Se o presidente quisesse sua saída, disse a aliados, teria que demiti-lo.
“NÃO SOU MOLEQUE"
Além da atuação nos bastidores, Bebianno afirmou ontem à revista “Crusoé” que o presidente Jair Bolsonaro “está com medo de receber algum respingo” das investigações sobre o uso de candidatas laranjas pelo PSL nas eleições de 2018 e, por isso, teria agido da forma que agiu no caso.
— Não sou moleque, e o presidente sabe. O presidente está com medo de receber algum respingo — disse à “Crusoé”.
Bebianno enfrenta um processo de desgaste provocado por denúncias envolvendo irregularidades na sua gestão à frente do caixa eleitoral do PSL. Segundo reportagem da “Folha de S.Paulo”, durante as eleições, então coordenador da campanha de Bolsonaro, Bebianno liberou R$ 400 mil do fundo partidário a uma candidata que teve apenas 274 votos. A suspeita é de que ela tenha sido usada como laranja.
Em nota divulgada ontem, Bebianno tentou rebater tecnicamente as acusações reforçando que não era responsável pelos repasses para candidatos deputados nos estados.
Filho mais próximo do presidente, o vereador postou nas redes sociais, na quarta-feira, um áudio do presidente endereçado ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Carlos trabalha nos bastidores para derrubar Bebianno, que considera seu desafeto.
O filho do presidente, que não tem função formal no governo, postou agravação no começo da tarde, enquanto o pai voava de São Paulo a Brasília, par amostrar aseus seguidores que o ministro teria mentido, ao dizer ao GLOBO, que teria conversado, por mensagens de WhatsApp com Bolsonaro.
O ministro palaciano falou sobre as conversas na terça-feira, para rebater rumores de que estaria enfraquecido no cargo. Na mesma quarta, porém, o próprio Bolsonaro avalizou as declarações do filho.
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