Em evento com militares no Rio, presidente também afirmou que deseja se aproximar de países com ideologia semelhante ao Brasil; após repercussão, Mourão minimizou a fala
Denise Luna e Julia Lindner / O Estado de S.Paulo
RIO - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira, 7, durante as comemorações dos 211 anos do Corpo de Fuzileiros Navais, no Rio, que a liberdade e a democracia só existem "quando as Forças Armadas assim o querem". Após a repercussão da fala de Bolsonaro, o vice-presidente, Hamilton Mourão, afirmou que ele estava sendo "mal interpretado".
Em discurso de cerca de quatro minutos, Bolsonaro ressaltou que quer estar ao lado "daqueles que amam a Pátria, daqueles que respeitam a família, daqueles que querem aproximação com países que têm ideologia semelhantes à nossa (Brasil), e daqueles que amam a democracia e a liberdade".
Bolsonaro afirmou ainda que vai aprovar a reforma da Previdência e que os militares serão incluídos "respeitando as especificidades de cada Força (Marinha, Exército e Aeronáutica)".
O presidente saiu sem falar com a imprensa dois dias depois de ter postado na internet um vídeo considerado pornográfico e escatológico, que foi retirado do ar, e gerou críticas entre aliados e opositores.
Mourão sai em defesa do presidente
Horas mais tarde, Hamilton Mourão afirmou que o presidente foi "mal interpretado". Segundo Mourão, a frase não tem tom ameaçador, como foi visto por alguns, e, sim, faz referência ao caso de países como a Venezuela.
"Ele está sendo mal interpretado. O presidente falou que onde as Forças Armadas não estão comprometidas com democracia e liberdade, esses valores morrem. É o que acontece na Venezuela. Lá, infelizmente as Forças Armadas venezuelanas rasgaram isso aí", disse Mourão a jornalistas em Brasília.
Questionado se concorda com a afirmação de Bolsonaro, Mourão respondeu que, "se as Forças Armadas não são comprometidas com democracia e liberdade, elas não subsistem".
Oposição critica fala
A declaração dada pelo presidente foi alvo de críticas da oposição. O candidato derrotado à Presidência Fernando Haddad (PT) escreveu que Bolsonaro deveria ter atendido à imprensa para explicar o raciocínio. A presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann(PT-RS), mostrou indignação. "Essa pessoa não tem limites na agressividade", tuitou. "A democracia foi conquistada pela sociedade brasileira, não é objeto de tutela ou permissão", escreveu Gleisi, para quem a democracia tem inimigos no grupo político do presidente.
Ivan Valente, deputado federal pelo PSOL fluminense, lembrou o trecho da Constituição Federal que diz que "todo poder emana do povo" e disse que a fala do presidente pode ser interpretada como uma mensagem que insta os militares a uma postura antidemocrática. "Mais uma vez comete crime de responsabilidade e atenta contra a dignidade do cargo. Pior, constrange os militares a assumirem o autoritarismo", tuitou o deputado referindo-se ao presidente.
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