Em cerimônia, presidente afirmou que vai governar ao lado 'daqueles que respeitam a família'
Italo Nogueira / Folha de S. Paulo
RIO DE JANEIRO - Em discurso para militares, o presidente JairBolsonaro (PSL) afirmou nesta quinta-feira (7) que vai governar ao lado "daqueles que respeitam a família" e afirmou que democracia só existe se as Forças Armadas "assim o quiserem".
O presidente fez um rápido discurso na cerimônia no 211º aniversário do Corpo de Fuzileiros Navais, na Fortaleza de São José da Ilha de Cobras, no centro do Rio de Janeiro. Ele descreveu sua vitória nas eleições do ano passado como uma missão.
“A missão será cumprida ao lado das pessoas de bem do nosso Brasil, daqueles que amam a pátria, daqueles que respeitam a família, daqueles que querem aproximação com países que têm ideologia semelhante à nossa, daqueles que amam a democracia. E isso, democracia e liberdade, só existe quando a sua respectiva Força Armada assim o quer”, afirmou.
O presidente discursou por pouco mais de quatro minutos e não atendeu a imprensa após o evento.
Em janeiro, em seu segundo dia de governo e também diante de militares, Bolsonaro havia adotado um discurso na mesma linha. Na ocasião, disse que as Forças Armadas do Brasil são obstáculo para quem quer usurpar o poder no país.
“A situação em que o Brasil chegou é prova inconteste de que o povo, em sua grande maioria, quer respeito, quer ordem, quer progresso”, afirmou naquele dia.
A fala de Bolsonaro motivou críticas de opositores. Derrotado nas últimas eleições, Fernando Haddad (PT) cobrou uma explicação. "Infelizmente, o presidente não atendeu a imprensa para explicar o raciocínio", escreveu no Twitter.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, também atacou a declaração. "Essa pessoa não tem limites na agressividade! A Democracia foi conquistada pela sociedade brasileira. Não é objeto de tutela ou permissão. Terá muita luta pra defendê-la, apesar de vc e seus aliados", disse ela na rede social.
"Ele ataca a Constituição que diz `Todo poder emana do povo´. Mais uma vez comete crime de responsabilidade e atenta contra a dignidade do cargo. Pior, constrange os militares a assumirem o autoritarismo", escreveu o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP).
O deputado federal Alexandre Padilha (PT) disse que Bolsonaro cometia um "ataque irreparável" à Constituição ao "tutelar a nossa democracia ao bem dispor dos militares".
O vice-presidente, general Hamilton Mourão, afirmou que a frase de Bolsonaro foi mal interpretada.
“[O presidente] está sendo mal interpretado. O presidente falou que onde as Forças Armadas não estão comprometidas com democracia e liberdade esses valores morrem. É o que acontece na Venezuela”, disse.
O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, disse à TV Globo não ter visto polêmica na declaração de Bolsonaro.
"Não achei polêmica. Não vejo nada demais na declaração. Ele estava fazendo um discurso para comemoração dos 111 anos do corpo de fuzileiros navais e ele falou o que todo mundo sabe: as Forças Armadas são o baluarte da democracia e da liberdade. Historicamente, em todos os países do mundo", afirmou.
PREVIDÊNCIA
Nesta quinta-feira, Bolsonaro voltou a afirmar que os militares serão incluídos na reforma da Previdência proposta pelo governo federal.
“Entraremos numa nova Previdência em que entrarão os militares, mas não esqueceremos as especificidades de cada Força”, declarou o presidente em discurso.
Ele também voltou a defender o excludente de ilicitude para mortes provocadas por militares em missões.
“Quero oferecer retaguarda jurídica para que os militares possam vir a cumprir seu trabalho, em especial nas missões extraordinárias”, disse Bolsonaro.
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