Em vez de disparar tuítes para animar militantes, presidente tem de cumprir promessas feitas
O desastrado tuíte do presidente Bolsonaro, com cenas pornográficas do carnaval de rua, recebeu o merecido repúdio e deflagrou incontáveis análises sobre quais seriam as motivações do presidente. Há aposta em que Bolsonaro procurou se vingar das críticas que recebeu, talvez desconhecendo que brincar com os poderosos da vez é costume secular do carnaval brasileiro. É possível, também, que tenha tentado de forma canhestra dar um aceno a eleitores seus mais conservadores.
Porém, o que fica de tudo isso — além de fundos arranhões na imagem presidencial — é que Bolsonaro precisa descer de vez do palanque, arregaçar as mangas e trabalhar com afinco para executar o que prometeu na campanha. A primeira tarefa da sua agenda, a reforma da Previdência, já é capaz de tomar todo o seu tempo. Depois de escorregar em um ou outro aceno de recuo — como admitir rebaixar o limite de idade na aposentadoria das mulheres, de 62 anos para 60, em prejuízo da redução dos gastos públicos —, o presidente tem de se dedicar ao convencimento de políticos de que não há alternativa para se começar a desanuviar os horizontes do crescimento.
Constatada a inviabilidade de entendimentos políticos com “bancadas temáticas”, o governo já trabalha junto aos partidos para construir uma base parlamentar que conceda 308 votos na Câmara e 49 no Senado, o mínimo necessário para que mudanças constitucionais sejam aprovadas no Congresso. Há várias no projeto da Previdência.
Esta reforma é um teste de vida ou morte para o governo, que pode começar a arrastar correntes logo em seu primeiro ano — caso não consiga passar pelo Legislativo uma reforma que dê segurança de que o Estado deixará sua trajetória rumo à insolvência —, mas se trata apenas de uma das missões de Bolsonaro, assumidas por ele diante do eleitorado, e de fato imprescindíveis. Fosse ou não ele o presidente.
Não será perdendo tempo disparando tuítes, para alegrar a plateia com agressão a adversários, que ele conseguirá que o governo avance na desburocratização, alvo-chave para melhorar a péssima colocação do Brasil nos rankings mundiais sobre qualidade do ambiente para negócios. O mesmo acontece com a também prometida reforma tributária, fonte de injustiças e de distorções que infernizam a vida de pessoas físicas e jurídicas, além de retardar a volta do crescimento econômico.
Foi correta a junção de órgãos públicos nos fortalecidos ministérios da Economia, bem como no da Justiça e Segurança Pública. Tomada a decisão certa, o presidente não está dispensado de atuar para que os dois ministros consigam executar em suas áreas tudo que é necessário.
Da abertura comercial do país, das privatizações ao combate à corrupção e à insegurança pública, muita coisa passa por importantes alterações em leis, as quais, mais uma vez, requerem trabalho de Bolsonaro junto ao Legislativo. Ser presidente exige postura e também trabalho duro.
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