- O Estado de S.Paulo
Que país, além do Brasil, teve, nos últimos 30 anos, dois ex-presidentes presos e outros dois destituídos por impeachment?
Que país, além do Brasil, teve, nos últimos 30 anos, dois ex-presidentes presos e outros dois destituídos por impeachment? Há, ainda, os governadores do Rio desde 1998, todos na cadeia...
Embora às vezes excessivamente tumultuada e nem sempre conduzida dentro das regras estritas da execução da Justiça, não dá para tirar o mérito dessa megaoperação de saneamento da administração pública. Mas, também, não dá para ignorar suas consequências sobre a política.
Certo tumulto passou a ser inevitável a partir deste mandado de prisão do ex-presidente Michel Temer. Impossível prever agora a sua extensão e os seus desdobramentos. É mais provável que não perdure.
Na área política as coisas já vinham esquisitas. O presidente Bolsonaro não completou cem dias no governo e, no entanto, produz diariamente uma agonia. Falta coordenação em torno dos objetivos mais importantes, que ninguém sabe quais são. Nem seu núcleo familiar se entende.
Depois de eleito com 55% dos votos, a aprovação popular do presidente despencou para 34%, como atestou quarta-feira o Ibope. Por 6 votos a 5, o Supremo decidiu transferir os processos contra roubalheira dos políticos, da justiça comum (leia-se Operação Lava Jato) para a Justiça Eleitoral, como se tratasse puramente de prática de caixa 2 destinada a financiamento de campanha. No Ministério da Educação, depois de uma desastrada recomendação de que as escolas obrigassem os alunos a proclamar o slogan do governo, foi deflagrada uma operação de caça às bruxas de todas as tendências. O projeto de reforma da Previdência dos militares foi a aspersão de água de colônia que se viu. O presidente da Câmara decidiu abrir fogo contra o ministro da Justiça, Sergio Moro, pelo pedido de tramitação do seu projeto anticorrupção. Em apenas oitenta e poucos dias, outras coisas raras aconteceram que não cabem neste espaço.
Se o clima político é esse aí, como ficam as condições de aprovação do projeto da Previdência? Até que ponto a até agora frágil capacidade de articulação do governo prejudicará a aprovação do projeto de reforma? E como o governo poderá tocar os programas de política econômica? Perguntas desse tipo foram repetidas nesta quinta-feira em todas as esferas de tomada de decisão do setor público e do setor privado, sem respostas definitivas para elas.
Ainda na reunião de quarta-feira, o Copom advertira no seu comunicado que “uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar os prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação”. Por isso, ignorou as pressões de segmentos do mercado por maior redução dos juros, de maneira a facilitar a expansão do crédito e destravar a atividade econômica. Um dia depois, no entanto, as incertezas na área política parecem ter ficado mais evidentes. Ainda não se sabe até que ponto ficou prejudicada a formação de uma coalizão do governo para aprovação das reformas.
A recuperação da economia já vinha em exasperada lentidão, a indústria está prostrada, o consumo quase não anda, o desemprego é recorde. O País necessita de liderança firme para enfrentar não apenas essas turbulências, mas, também, a inevitável distribuição de contas a pagar pela sociedade. E, no entanto, onde está ela?
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