Por Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro | Valor Econômico
BRASÍLIA - A prisão do ex-presidente Michel Temeracirrou ontem a tensão existente entre o presidente Jair Bolsonaro e a base de partidos aliados ao governo no Congresso. Além de Temer, a Polícia Federal prendeu o ex-ministro Moreira Franco, padrasto da mulher do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com quem Bolsonaro e seus filhos têm travado permanente disputa nos bastidores de Brasília. O caso tomou ares de crise e, agora, ameaça a tramitação da reforma da Previdência.
Após a prisão de Moreira Franco, Maia cancelou todos os compromissos agendados para ontem. Ele está irritado com o presidente desde o fim de semana, quando o convidou para almoçar, em Brasília, e ao presidente do STF, José Dias Toffoli. Bolsonaro levou 20 ministros e assessores e, assim, evitou que o encontro fosse reservado. Ao sair da reunião, escreveu nas redes sociais ataques à "velha política" e à pressão por cargos.
O desconforto escalou nos dias seguintes, quando o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ) criticou articulações de Maia sobre a reforma. O presidente da Câmara se queixou com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, mas nada mudou. Ontem, Carlos postou no Instagram fotos de Maia e do ministro da Justiça, Sérgio Moro, acompanhadas de uma indagação: "Por que o presidente da Câmara anda tão nervoso?", referência ao fato de Maia ter suspendido a tramitação do pacote anticrime do ministro.
Por causa de atritos com Moro, bolsonaristas procuraram intimidar Maia nas redes socias, criando a "hashtag" #RodrigoRespeitaSergioMoro" e mencionando inquéritos na Justiça Federal a que o presidente da Câmara responde.
Ontem, Maia, que vinha negociando pessoalmente apoios para a reforma da Previdência, disse a aliados que, a partir de agora, terá papel apenas "institucional" em relação ao tema e, portanto, ao encaminhamento da tramitação da proposta. O presidente da Câmara tem servido como porta-voz da reclamação de deputados por espaço no governo. Tornou-se alvo de Bolsonaro, que faz o discurso de que não aceitará o "toma-lá-dá-cá" e que governará com a pressão da sociedade sobre o Congresso, por meio das redes sociais.
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