sábado, 4 de maio de 2019

Julianna Sofia: De troiano para troiano

- Folha de S. Paulo

Bolsonaro corre contra o tempo para garantir benefícios assistenciais e previdenciários

Ao passar as chaves do Palácio do Planalto a Jair Bolsonaro, Michel Temer entregou ao sucessor um legado fiscal funesto, com um rombo orçamentário de R$ 139 bilhões já no primeiro ano. De quebra, brindou Jair com um presente de grego equivalente a R$ 248,9 bilhões.

Entre os vários parâmetros estabelecidos pela legislação das contas públicas, há um denominado regra de ouro. A norma impede que a União emita dívida em volume superior aos seus investimentos, pois a ideia é proibir que o Tesouro Nacional tome recursos no mercado para cobrir despesas corriqueiras.

Para 2019, verificou-se um desequilíbrio na regra de ouro próximo de R$ 250 bilhões. Qual a saída bolada por Temer? Obrigar o presidente sucessor a pedir ao Congresso autorização para lançar títulos adicionais e assim bancar benefícios assistenciais (BPC e Bolsa Família), previdenciários e subsídios.

Passados quatro meses, Bolsonaro ainda não obteve esse aval. Diante da incapacidade de compor uma maioria parlamentar, o governo tem dificuldade para desapear de seu cavalo de Troia. Corre o risco de não honrar esses pagamentos —já a partir de julho. Ou de honrá-los e ser acusado de cometer crime de responsabilidade, o que poderia levar a um processo de impeachment.

A atual equipe econômica afirma que a necessidade de emissão de dívida estaria num patamar bem menor —inferior a R$ 100 bilhões. Mesmo que haja revisão do valor, Bolsonaro ainda precisa da autorização dos congressistas para o crédito extra. No cabo de guerra com os parlamentares, há receio de que seja negado o endosso no caso dos subsídios, afetando programas da agricultura familiar e do financiamento de exportações brasileiras.

Também em 2020 a regra de ouro está em perigo. E será necessário lançar mão da mesma estratégia de créditos extras com respaldo do Congresso, segundo roteiro traçado pela turma do próprio ministro Paulo Guedes (Economia).

Regalo de troiano para troiano.

Nenhum comentário: