Bolsonaro busca conexão com seguidores fiéis para conter erosão de prestígio
Com a popularidade abalada e dificuldades para fazer sua agenda avançar no Congresso, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem se esforçado para se comunicar diretamente com a população e recuperar a conexão com o eleitorado.
Em entrevistas a emissoras de televisão e declarações nas redes sociais, ele fez nos últimos dias vários acenos a grupos que deram impulso a seu triunfo eleitoral em outubro e agora expressam decepção com os rumos do governo.
Dirigindo-se aos evangélicos, por exemplo, Bolsonaro descartou a possibilidade de impor custos às igrejas com a reforma do sistema tributário atualmente em gestação no Ministério da Economia.
A ideia de um imposto que alcance até o dízimo pago pelos fiéis nos templos, ventilada pelo secretário da Receita, Marcos Cintra, em entrevista a esta Folha, foi tão mal recebida que o presidente se viu obrigado a desautorizar o assessor.
Questionado sobre a crise na Venezuela, Bolsonaro aproveitou a chance para atacar a esquerda e dar palpites sobre a Argentina, classificando como retrocesso a possibilidade de Cristina Kirchner voltar ao poder nas eleições de outubro.
O presidente deu preferência a programas de apelo popular, e chegou a levantar a camisa durante uma das entrevistas, para mostrar as cicatrizes deixadas pelas cirurgias sofridas após a facada que levou durante a campanha eleitoral.
Parte do problema de Bolsonaro é a lenta retomada da atividade econômica, frustrante para os que apostaram na sua eleição como caminho para sair da estagnação.
No Dia do Trabalho, em rede nacional de rádio e televisão, o presidente prometeu facilidades para empreendedores e medidas para gerar empregos, temas que voltaria a explorar nos dias seguintes.
Sem resultados concretos para exibir após quatro meses no cargo, Bolsonaro se esforça para reanimar expectativas e deter o encolhimento dos índices de aprovação do seu governo nas pesquisas.
Ele sabe que precisa disso para convencer o Congresso a aprovar uma reforma da Previdência ambiciosa, essencial para restaurar o equilíbrio das finanças públicas e criar as condições para que a economia volte a crescer com vigor.
Em algumas de suas manifestações nos últimos dias, o presidente mencionou a reforma das aposentadorias e foi claro ao apontá-la como sua tarefa mais urgente.
Mas ele mesmo é o primeiro a admitir que só se convenceu disso recentemente, e ainda lhe parece faltar a convicção necessária para persuadir os parlamentares a apoiar sua proposta sem medo dos riscos políticos que a acompanham.
Dificilmente o presidente alcançará esse objetivo se não estabelecer canais de diálogo com setores mais amplos da sociedade do que aqueles que o seguiram até aqui.
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