- Folha de S. Paulo
Governo adora se espelhar em políticas de EUA e Israel, mas não quando assunto é legalizar a maconha
O Brasil foi o último na América Latina a abolir a escravidão, em 1888. Quase um século separa a mudança iniciada nas sociedades mais desenvolvidas, como a Dinamarca, que proibiu em 1792 o comércio de escravos. Pelo andar da carruagem, o mesmo vai acontecer com outros temas que já passaram a ter o entendimento revisado, como a legalização da maconha.
Não temos mais as barreiras de informação, comunicação e tecnologia, que sempre contribuíram para nos deixar na lanterninha do desenvolvimento. Mas a chance de a Anvisa debater o assunto com seriedade e acompanharmos os avanços e as transformações pelas quais o mundo passa esbarra no pior tipo de combinação: o conservadorismo e a burrice de nossos governantes.
De um lado, o ministro da (falta de) Cidadania, Osmar Terra, insiste numa epidemia de drogas inexistente e acusa o "lobby maconheiro" para melar a regularização do uso medicinal da maconha. Do outro, o titular da Saúde se posicionou contra o plantio mesmo para as necessidades terapêuticas, porque "seria uma droga a mais para lutar."
Cerca de 35 países já deram um passo à frente. É curioso que este governo, que adora se espelhar nas sociedades americana e israelense, ignore suas políticas sobre o assunto. Nos EUA, em mais de 30 estados, remédio de maconha é legal. Cerca de uma dezena liberou geral.
Israel pesquisa a maconha desde os anos 1960. Na década seguinte, aprovou o uso mediante receita. Em janeiro, novas leis abriram caminho para a exportação do produto, e, mais recentemente, o uso recreativo foi flexibilizado. Há apostas de que o mercado da erva vá ser a próxima "grande indústria" no país, que já tem mais de cem startups, além do clima considerado perfeito para a plantação.
E a gente aqui, na rabeta da história, juntinho com os países mais atrasados, na mão de gente tosca, vendo o bonde civilizatório passar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário