- O Globo
Em 2004, uma foto aérea transformou Paraisópolis em símbolo da desigualdade brasileira. Quinze anos depois, a favela passa a ser marcada pela violência policial
De um lado do muro, um edifício de luxo, com duas quadras de tênis e uma piscina por andar. Do outro, dezenas de barracos com tijolos aparentes, espremidos pela geografia caótica das favelas.
Em 2004, a foto de Tuca Vieira transformou Paraisópolis num símbolo da desigualdade brasileira. Quinze anos depois, a favela paulistana passa a ser associada à violência policial na periferia.
Uma operação da PM na madrugada de domingo terminou com nove jovens mortos. As vítimas tinham entre 14 e 23 anos. Estavam num baile funk, interrompido com bombas de gás e balas de borracha.
Os exames de necropsia ainda vão verificar se os jovens morreram pisoteados, como sustenta a versão oficial. Mesmo assim, já se sabe que a tragédia foi provocada por uma ação desastrada, que mostrou despreparo e truculência da polícia.
O baile reunia cerca de 5 mil pessoas. A pretexto de prender dois suspeitos, os PMs provocaram pânico e encurralaram a multidão. Quem tentou fugir do tumulto foi agredido com golpes de cassetete. Moradores filmaram o espancamento de jovens caídos.
A violência policial é parte do cotidiano das favelas. Na capital paulista, a PM se tornou a principal causadora das mortes de jovens. A informação está em estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, feito com dados de boletins de ocorrência.
“Negros e moradores da periferia são a maioria das vítimas”, constata a diretora executiva do Fórum, Samira Bueno. “Isso mostra a seletividade da ação da polícia, que criminaliza a juventude pobre”.
Eleito na onda bolsonarista, o governador João Doria também surfa no discurso da brutalidade. Na campanha, ele disse que a PM paulista passaria a “atirar para matar”. Ontem, afirmou que as ações da polícia são “bem planejadas” e que sua política de segurança “não vai mudar”. Acrescentou que o baile de Paraisópolis “nem deveria ter sido realizado”.
O tucano jamais repetiria essas palavras se as vítimas fossem jovens de classe média. Essa é outra face perversa da desigualdade brasileira.
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