- Folha de S. Paulo
Polícia Militar de São Paulo adota postura corporativa tentando proteger policiais que podem ter cometido crimes
Ao que tudo indica, na madrugada de domingo, a Polícia Militar de São Paulo atacou de surpresa uma festa de rua em Paraisópolis com mais de 5.000 pessoas. Sem emitir aviso, policiais cercaram e atiraram bombas de estilhaço e balas de borracha sobre uma multidão desavisada de adolescentes que se divertiam numa noite de sábado.
Os jovens fugiram desesperados por escadarias, vielas e becos e foram encurralados e agredidos por policiais.
Tentando fugir da violência arbitrária da polícia, cinco adolescentes e quatro jovens morreram pisoteados: Bruno Gabriel dos Santos, 22, Denys Henrique Quirino da Silva, 16, Dennys Guilherme dos Santos Franco, 16, Eduardo da Silva, 21, Gabriel Rogério de Moraes, 20, Gustavo Cruz Xavier, 14, Luara Victoria Oliveira, 18, Marcos Paulo Oliveira dos Santos, 16, e Mateus dos Santos Costa, 23.
A Polícia Militar mais uma vez se fechou em movimento de autoproteção corporativa. Em movimento reflexo negou de pronto as acusações e se apressou em proteger os pares.
Antes de apurar o ocorrido e analisar as evidências, o porta-voz da PM apresentou como fato a versão dos policiais de que suspeitos com quem haviam trocado tiros se esconderam no baile e, quando se aproximaram da aglomeração, os policiais foram recebidos com pedradas e garrafadas, contra o que reagiram de forma “razoável” —mesmo se os protocolos para distúrbios civis exijam alerta prévio, não autorizem o uso de bala de borracha e recomendem estabelecer rotas de fuga seguras para a dispersão.
O relato oficial da PM é desmentido por vídeos e depoimentos que mostram policiais cercando e atacando o baile pelos dois lados, forçando a dispersão por uma escadaria e por vielas onde as mortes por pisoteamento ocorreram. Além disso, vídeos mostram policiais encurralando e depois agredindo com brutalidade adolescentes desarmados e rendidos.
Documento da Polícia Civil revelado pelo site Ponte Jornalismo mostra que, diferentemente da versão da perseguição a suspeitos, o que teria havido é “uma operação ‘pancadão’, ao entorno da comunidade de Paraisópolis, no sentido de proibir entrada de pessoas para o baile”.
A determinação do que exatamente aconteceu e por que aconteceu ainda precisa ser estabelecida. Mas, mais uma vez, o que vemos é a postura da PM afoita em proteger e acobertar possíveis crimes cometidos por policiais mesmo quando as vítimas são adolescentes e jovens, inocentes e desarmados.
O que se espera é uma apuração rigorosa como prometeu o governador João Doria e que os crimes não fiquem impunes como seguem os “crimes de maio”, assassinatos de mais de 500 civis nos dias seguintes aos ataques do PCC em 2006.
*Pablo Ortellado, professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, é doutor em filosofia.
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