- Folha de S. Paulo
Defeito primordial do mandatário é a falta de comprometimento com a democracia
Discordo da avaliação do secretário de Comunicação Social da Presidência, Fábio Wajngarten, expressa em artigo publicado na segunda (2). O editorial da Folha “Fantasia de imperador” não desrespeitou a figura institucional do presidente da República; é Jair Bolsonaro quem apequena o posto.
Seu defeito primordial é a falta de comprometimento com a democracia, que fez questão de expressar antes, durante e depois da campanha que o sagrou presidente. É meio assustador que os brasileiros tenham escolhido para liderá-los um sujeito que defendeu a tortura e o fuzilamento de adversários, mas esse é um efeito adverso possível da soberania popular. Temos de viver com isso.
Ao defeito primordial somam-se vários outros. Bolsonaro parece incapaz de distinguir entre o público e o privado, comportando-se como se a Presidência fosse uma extensão de sua casa e não um Poder da República, limitado por outros Poderes, por princípios constitucionais e por leis. Embora não chegue a ser surpreendente, é chocante a forma como ele instrumentaliza o cargo para desferir ataques a desafetos políticos e à imprensa.
Bolsonaro não passa nem no teste da urbanidade mínima. Presidentes já fizeram e disseram coisas grosseiras ao longo de nossa história republicana, mas nenhum havia divulgado imagens escatológicas nem insultado pública e gratuitamente outros chefes de Estado e até uma primeira-dama.
Mais grave, Jair Bolsonaro não demonstra nenhum apego à verdade factual. Ele não hesita em difundir mentiras, desde que sirvam a suas confabulações ideológicas, como vimos em quase tudo o que disse sobre a Amazônia.
Respeito se conquista. Bolsonaro não o conquistou. Ao contrário, a forma como se comporta na condição de primeiro mandatário do país resulta, ao menos para mim, numa certa vergonha de ser brasileiro. O consolo é que ele, a exemplo de outros que o antecederam, passará.
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