Presidente faz insinuações de cunho sexual sobre Patricia Campos Mello; entidades reagem
Julia Lindner / O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro fez ontem insinuações de cunho sexual sobre o trabalho da jornalista Patricia Campos Mello, repórter do jornal Folha de S.Paulo. “Ela queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, disse Bolsonaro, na saída do Palácio da Alvorada.
Patricia é autora de reportagens que atribuem a bolsonaristas o uso irregular do WhatsApp para disparos em massa durante a campanha eleitoral.
Bolsonaro atacou a jornalista ao comentar o depoimento de um ex-funcionário da Yacows, agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, na CPI das Fake News no Congresso. Na semana passada, Hans River do Rio Nascimento ofendeu a jornalista ao dizer que ela havia se insinuado para ele em troca de uma reportagem. Suas declarações na comissão foram contestadas pela Folha, que divulgou mensagens de texto e áudios e acusou Hans River de mentir. Bolsonaro, porém, endossou a versão e citou outro depoimento de River.
“O depoimento do Hans River foi no final de 2018 para o Ministério Público, ele diz do assédio da jornalista em cima dele”, afirmou o presidente. Segundo a Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo, o processo citado por Bolsonaro está sob sigilo.
Em nota divulgada ontem, a Folha afirmou que “o presidente da República agride a repórter Patricia Campos Mello e todo o jornalismo profissional com a sua atitude”. O texto diz ainda que ele “vilipendia também a dignidade, a honra e o decoro que a lei exige do exercício da Presidência”.
Também em nota, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) protestou. “As insinuações do presidente buscam desqualificar o livre exercício do jornalismo e confundir a opinião pública. Como, infelizmente, tem acontecido reiteradas vezes, o presidente se aproveita da presença de uma claque para atacar jornalistas, cujo trabalho é essencial para a sociedade e a preservação da democracia.”
Em dezembro de 2018, relatos de Hans River embasaram reportagem sobre disparo de mensagens em benefício de candidatos. Após as declarações dele na semana passada, diversas entidades de imprensa já haviam divulgado notas de repúdio. A Folha publicou documentos para mostrar “a correção das reportagens”.
Em nota conjunta, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e o Observatório de Liberdade de Imprensa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) afirmaram que “os ataques aos jornalistas empreendidos pelo presidente são incompatíveis com os princípios da democracia, cuja saúde depende da livre circulação de informações e da fiscalização das autoridades pelos cidadãos”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário