- Folha de S. Paulo
É tumulto no Congresso, nos modos, nas relações institucionais; PIB fraqueja
O começo do ano no Congresso ficou para depois do Carnaval, para março, na prática. A balbúrdia provocada por Jair Bolsonaro é intensa desde janeiro. Neste mês, o tumulto presidencial continua e desdobra-se em pequenas crises políticas, que dificultam o programa administrativo e parlamentar do governo, é meio ridículo dizer, como se planejamento racional fosse o objetivo do Planalto.
O torvelinho de disparates, a inoperância administrativa e a desarticulação parlamentar obviamente não inspiram confiança. Há indícios ainda incertos, mas preocupantes, sobre a fraquejada da economia. Por uma estimativa do Banco Central, o PIB teria crescido 0,9% em 2019; por outra, do Ibre-FGV, 1,2%.
Em um mundo político e econômico menos anormal, essa diferença seria uma insignificância, na verdade. Mas, no mui curtíssimo prazo e nesta balbúrdia, o resultado menor pode suscitar mais desânimo e ainda mais zunzum político.
Dizer que o ministro Paulo Guedes (Economia) “não pediu para sair” tampouco melhora o ambiente. Na tentativa de passar a mensagem de que Guedes fica e, ao mesmo tempo, de se afastar dos “deslizes” do ministro (empregadas na Disney e servidores parasitas), Bolsonaro estimula a fofoca na praça financeira.
Como se não bastasse, a demagogia de Bolsonaro com os preços de combustíveis, pedágio e dólar pode ficar cara. Estimula, de modo oportunista e irresponsável, mais insatisfação com o custo da gasolina e do diesel, o que incita mais burburinho grevista de caminhoneiros. Um grupo deles fez um chamado de greve para esta quarta-feira, meio para inglês ver, mas fez.
A falação disparatada, desvairada ou ultrajante, insultando jornalistas e mulheres em geral, teve mais consequências.
Em menos de 15 dias, Bolsonaro recebeu duas cartas de protesto de governadores. Uma delas, criticava a demagogia com combustíveis e a tentativa de jogar nas costas dos estados a responsabilidade sobre o preço da gasolina. A outra deplorava as declarações presidenciais sobre a ação da polícia na morte de Adriano da Nóbrega, miliciano morto na Bahia e amigo e parente de agregados dos Bolsonaro.
Não satisfeito, o presidente contribuiu para mais intranquilidade institucional ao dizer que tomou “providências legais” para que seja realizada uma “perícia independente” sobre a morte de Nóbrega. Um filho, senador, colocou em redes sociais um vídeo de um cadáver que diz ser o do miliciano morto, criticando inimigos políticos e aumentando o sururu político sórdido.
A desordem na articulação parlamentar está à beira de criar uma crise. O Congresso se deu poderes maiores de impor a execução do Orçamento, alguns de fato fora da realidade (em suma, em parte impedem a contenção de gastos em caso de falta de recursos). Bolsonaro vetou a coisa.
O Congresso estava para derrubar o veto. Houve uma negociação de um meio termo, que foi para o vinagre, porém. Bolsonaro diz nas internas que, caso seus vetos sejam derrubados, irá ao Supremo contestar a constitucionalidade da lei aprovadas pelos parlamentares.
Deputados e senadores começaram o ano de mau humor com o governo. Não está melhorando; piora, como no caso da indecisão politiqueira e populista do Planalto sobre a prioridade das reformas a enviar ao Congresso. A militarização do centro do governo suscitou desconfiança.
É um retrato de baderna. Vai ser o filme do ano?
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