- O Globo
Bolsonaro é um presidente viciado em elogios. Em plena pandemia, demitiu um ministro da Saúde que se recusava a aplaudir o discurso da “gripezinha’
Jair Bolsonaro ainda vestia farda quando a cartunista Laerte criou o Fagundes. O personagem retratava um tipo que o leitor conhece bem: o sabujo profissional, que não tem vergonha de lamber as botas do chefe.
O baixinho estreou nas tiras da série “Condomínio”, em 1986. Laerte o definiu como um “puxa-saco de mão cheia”. Estava sempre a postos para servir um cafezinho e elogiar a gravata do doutor.
No governo atual, a bajulação virou passaporte para o poder. Ernesto Araújo era um diplomata de baixa patente, que nunca havia chefiado missão no exterior. Após escrever que Donald Trump salvaria o Ocidente, foi promovido ao cargo de chanceler.
“Nenhum presidente valorizou mais o papel do Itamaraty do que o senhor”, derramou-se, em maio passado. No mesmo discurso, Araújo comparou Bolsonaro a Jesus Cristo. Emocionado com a própria vassalagem, verteu lágrimas diante do chefe.
Abraham Weintraub também desfila no cordão que cada vez aumenta mais. De tanto cortejar os filhos do presidente, foi alçado ao comando do MEC. Sua gestão é um desastre, mas ele segue em alta com o clã. “Para mim, é o melhor ministro da Educação de todos os tempos”, exaltou o deputado Eduardo Bolsonaro.
Nesta terça, Onyx Lorenzoni mostrou até onde um ministro pode se agachar. Em entrevista, ele exaltou a “coragem” e a “sensibilidade” do capitão na crise do coronavírus. Depois passou a chamá-lo de “comandante da nossa nação”. A subserviência produziu o efeito desejado. Em poucos minutos, a fala foi replicada nas redes sociais do Zero Três.
Bolsonaro é um presidente viciado em elogios. Em plena pandemia, demitiu um ministro da Saúde que se recusava a aplaudir o discurso da “gripezinha”. Ele foi trocado pelo oncologista Nelson Teich, que cobiçava a cadeira desde a campanha eleitoral.
O novo ministro chegou disposto a agradar. Na estreia, anunciou “alinhamento completo” com o chefe. Apesar da promessa, não está claro se ele aceitará negar a ciência e relaxar as medidas de distanciamento. Na dúvida, era mais seguro nomear o Fagundes original.
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