- Blog do Noblat | Veja
Vidas não importam. Votos, sim
A demissão do ex-ministro Henrique Mandetta, da Saúde, veio no melhor momento para ele, às vésperas de uma torrente de mortes a serem provocadas pelo coronavírus. E, para o presidente Jair Bolsonaro que o despachou, no pior.
Embora frustrado, Mandetta vai para casa com o prêmio de consolação de ter tido seu comportamento aprovado por mais de 60% dos brasileiros, e a demissão rejeitada por mais de 80%. Bolsonaro fica com uma bomba prestes a explodir no seu colo.
Chega de intermediários, Bolsonaro para ministro da Saúde! O novo ministro escolhido por ele, e avalizado pelo filho Flávio, fará, ali, o que Bolsonaro mandar. Ou trabalhará alinhado com o presidente e suas ideias ou também será mandado embora.
Mandetta concluiu sua missão. A de Bolsonaro mal começa. A missão que Bolsonaro se deu nas últimas semanas foi a de destruir Mandetta politicamente para que em 2022 ele não ouse disputar as eleições, seja como candidato a presidente ou a vice. Vale tudo.
Orientados do alto, da tarefa se encarregarão os devotos do presidente. Missão dada, missão cumprida. Nas redes sociais, Mandetta é o alvo da vez dos bolsonaristas ensandecidos. Fora delas, também. Há dossiês sendo montados para emporcalhá-lo.
Bolsonaro, que em campanha prometeu que jamais seria candidato à reeleição, só pensa nisso. Todos os seus passos e ações têm como meta a obtenção de um segundo mandato. Pode não ter nascido para ser presidente, como diz. Uma vez que é, quer ser outra vez.
Nada de anormal haveria se as decisões que toma para se reeleger não prejudicassem o país, mas muitas prejudicam, sim. O que ganha o Brasil com a saída forçada de Mandetta do governo? Nada. Só perde. Bolsonaro ganha, ou pensa que ganhou.
Em plena epidemia que assola o mundo, o que ganha o país com os mais recentes ataques de Bolsonaro ao presidente da Câmara dos Deputados, a quem acusou de querer derrubá-lo? Os ataques são para desviar a atenção coletiva da demissão de Mandetta.
Bolsonaro está empenhado em enfraquecer no Senado o pacote de socorro financeiro aos Estados aprovado pela Câmara. Alega que o governo não dispõe de tanto dinheiro. Pode até ser verdade, mas o que ele de fato não pretende é ajudar certos governadores.
Assim como Mandetta, é preciso destruir também os governadores João Doria, de São Paulo, e Wilson Witzel, do Rio de Janeiro. Doria aspira a suceder Bolsonaro. Witzel é tratado como inimigo por se recusar a salvar Flávio dos rolos em que se meteu.
Falta peito a Bolsonaro para confrontar o Supremo Tribunal Federal que reconheceu o direito de governadores e prefeitos baixarem medidas de isolamento. Mas ele continuará investindo contra elas para apressar a recuperação da Economia.
Por que procede assim? Por que alimenta o falso dilema entre Economia e Vidas? Porque apostou todas as suas fichas na Economia para reeleger-se. Ao mensageiro da morte, vidas pouco importam. Importam votos. Portanto, passe livre para o vírus.
Bolsonaro cava sua própria sepultura. Tanto ou mais que o coronavírus, ele virou uma grave ameaça sanitária ao país. Em breve, segundo ouvi, ontem, de um ministro do Supremo Tribunal Federal, poderá virar uma espécie de Rainha da Inglaterra.
Sucessor de Mandetta sugere o que Mandetta fez ou sugeriu
A mesma receita
Embora se diga “completamente alinhado” com o presidente Jair Bolsonaro, o médico e empresário Nelson Teich, em sua primeira fala como ministro da Saúde, sugeriu que se faça o que Luiz Henrique Mandetta fez ou tentou fazer.
Mandetta defendeu o isolamento horizontal como definido por governadores e prefeitos. Teich, com menos ênfase, defendeu a manutenção do isolamento enquanto não passar a fúria do coronavírus, e tão cedo passará.
Mandetta cobrou a realização de testes em massa de pacientes da doença como recomenda a Organização Mundial da Saúde. É o que está sendo feito nos países mais bem-sucedidos no combate ao Covid-19. Teich cobra a mesma coisa.
Nada de novo, portanto, sob o sol. Pelo menos até aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário