sexta-feira, 17 de abril de 2020

Maia diz que Bolsonaro ataca para distrair atenção por demissão de Mandetta e que responderá com 'flores'

Presidene da Câmara disse que não tem nenhuma intenção de enfrentar ou prejudicar o governo do presidente Jair Bolsonaro

Victor Farias e Isabella Macedo | O Globo

BRASÍLIA — O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou em entrevista à CNN nesta quinta-feira que as críticas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro contra ele fazem parte de uma tática para desviar o foco da atenção da demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Após Bolsonaro atacar o presidente da Câmara, Maia afirmou que não iria "falar de agressões" e iria responder com "flores" .

— O presidente ataca como um velho truque da política. Quando você tem uma notícia ruim, como a demissão do ministro Mandetta, ele quer trocar o tema da pauta. O nosso tema continua sendo a saúde, continua sendo as ações que foram conduzidas pelo ministro Mandetta e agora vão ser construídas pelo novo ministro. Estamos no Parlamento, desde o início, discutindo temas com toda a seriedade do mundo, com toda a equipe do governo — disse.

Segundo Maia, Bolsonaro tenta mudar de assunto porque o povo brasileiro está preocupado com a saída de Mandetta.

— O povo brasileiro está preocupado hoje: perdemos o ministro Mandetta, foi nomeado um novo ministro, vamos dar oportunidade a ele, mas a saída do Mandetta assusta 80% da população brasileira pelo menos — disse Maia, se referindo a popularidade do ex-ministro, com índice de aprovação de sua gestão em 76%.

— Em uma guerra, quando você troca seu general, como é que fica seu exército? Fica sem rumo, fica sem caminho, então o general, o comandante quatro estrelas da área de saúde, foi trocado hoje. A população está preocupada, e nós não podemos, no momento em que a população está preocupada, criar mais insegurança — acrescentou.

Em entrevista à CNN antes de Maia, Bolsonaro afirmou que o presidente da Câmara tem uma atuação "péssima", está aprofundando a crise e "assumiu o papel do Executivo". Ele disse também que Maia quer atacar o governo enfiando a faca no governo no sentido figurativo.

Em resposta, o deputado disse que a Câmara não tem nenhuma intenção de enfrentar ou prejudicar o governo do presidente Jair Bolsonaro. Segundo o deputado, Bolsonaro joga "pedras" nos parlamentares, mas a resposta do Legislativo vai ser em "flores" .

— O presidente não vai ter de mim ataques. Ele pode atacar, ele joga pedra, e o Parlamento vai jogar flores pro governo federal — afirmou, acrescentando que não iria responder ao presidente "no nível que ele quer":

— É disso que se trata esse momento de crise: de união, de união por um objetivo só, que é salvar vidas, rendas e empresas brasileiras.

Maia também defendeu o projeto de socorro aos estados aprovado pela Câmara na segunda-feira, criticado pelo governo. O texto, que prevê um "seguro" contra a frustração de receitas dos estados com ICMS e de municípios, com o ISS, é visto pelo governo como um "cheque em branco" para governadores e prefeitos.

O presidente da Câmara afirma que a contrariedade com o projeto, que poderia aliviar contas de estados como São Paulo e Rio Grande do Sul, vem da disputa de Bolsonaro com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). O governo tem defendido a distribuição per capita, o que para ele, faz parte dessa disputa e que prejudica a capacidade dos municípios em atender os infectados pela Ccovid-19, já que parte das mais de 5 mil cidades do país dependem de receitas do ISS para se manter.

- A diferença é uma só. Vocês prejudicam São Paulo e um pouco o sul do Brasil. Eu não sou de São Paulo, não sou paulista, mas o que o povo de São Paulo tem a ver com a briga do presidente com o governador João Doria? O que o povo do Rio Grande do Sul, que também é prejudicado com essa mudança de regra, tem a ver com a briga do governador de São Paulo ou do Rio de Janeiro com o presidente da República? Vamos deixar as bricas para o futuro. A nossa proposta tem uma diferença simples: per capita e ICMS, você tira 7 ou 8% dos recursos que iam para os estados do Centro-Oeste, Sul e Sudeste e transfere para os estados do Nordeste.

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