- Folha de S. Paulo
O Brasil sob Bolsonaro é um país cheio de oportunidades
A pandemia está provocando uma fila de mortos —e de oportunidades. Aquelas que, segundo os homens mais ricos do mundo, acompanham as crises.
Oportunidade de mamata. Identificar como uma "garotada" (palavra usada por Bolsonaro) o grupo de militares que recebeu de forma irregular o auxílio emergencial do governo é mais uma desculpa sem pé nem cabeça; pelo tamanho do golpe, envolvendo mais de 70 mil fraudadores, trata-se de coisa orquestrada de dentro.
Oportunidade de rasgar a Constituição. A doença autocrática avança em paralelo às vítimas da Covid-19. Vide o artigo do general Mourão, ex-Mozão, com ataques à liberdade de imprensa. Ou as milícias bolsonaristas acampadas e armadas no Distrito Federal, pregando a "ucranização" do Brasil. Quem financia essa gente de bem?
Oportunidade de falar palavrão. O charivari ministerial de 22 de abril —quando o coronavírus já se tornara uma ameaça sanitária— mostrou que são alheios à saúde os interesses dos que comandam o país. O negócio é proteger filhos e aliados de investigações da PF; vender o Banco do Brasil; prender ministros do STF, governadores e prefeitos.
Oportunidade de falar besteira. Bolsonaro é especialista neste departamento. Enrolou-se ao tentar defender o indefensável, sugerindo uma competição macabra entre Brasil e Argentina; no país vizinho, em quarentena geral, a taxa de mortes causadas pela Convid-19 é de oito por milhão de habitantes; aqui, o número é mais de sete vezes maior. Ou citando a Suécia, que optou por isolamento brando e tem a maior taxa de mortalidade na Escandinávia.
Oportunidade de puxar o saco. Não se poderia esperar que o prefeito Marcelo Crivella se comportasse de maneira menos incompetente logo em meio a uma pandemia. Mas, com sua última declaração de amor, ele bateu um recorde: "Bolsonaro é feio por fora e bonito por dentro".
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