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Uma mentira puxa a outra
Se durante a reunião ministerial de 22 de abril último, o presidente Jair Bolsonaro queixou-se de falhas na sua segurança pessoal no Rio, e não de falhas da Polícia Federal que nada tem a ver com isso pois a tarefa cabe à Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), por que diabos ele promoveu recentemente o general responsável direto por sua segurança pessoal no Rio?
Se a Polícia Federal é uma polícia judiciária que não cuida da segurança pessoal do presidente nem da sua família no Rio e em parte alguma, por que Bolsonaro demitiu seu diretor-geral, o delegado Maurício Valeixo, o que acabou provocando a saída do governo do ex-ministro Sérgio Moro? E por que o novo diretor demitiu o superintendente da Polícia Federal no Rio?
Não se premia quem se revelou incompetente – no caso, o tal general. Não se pune inocentes – no caso o diretor-geral da Polícia Federal e o superintendente da Polícia Federal no Rio. O chefe do general supostamente relapso era o delegado Alexandre Ramagem, diretor da ABIN. Pois Ramagem foi justamente a escolha feita por Bolsonaro para substituir Valeixo. Não faz sentido. Não faz.
Quanto mais mente para se defender da acusação de que tentou intervir na Polícia Federal porque desejava tê-la diretamente ao seu serviço, obediente às suas ordens, a produzir relatórios diários com informações que por lei estava proibida de fornecer, mais Bolsonaro se arrisca a ser denunciado pelos crimes de obstrução à investigação de organização criminosa e advocacia administrativa.
Mentir é como puxar da caixinha um lenço de papel. Quando se puxa o primeiro lenço, apresenta-se o segundo. Na maioria das vezes, uma mentira requer outra para manter-se de pé. E assim vai até que a caixa se esvazia. Bolsonaro já deu provas de sobra de que é um mentiroso compulsivo. Mente e é desmentido. Mente por prazer, mente por descuido, mente para se safar, simplesmente mente.
Em agosto do ano passado, ele quis trocar o superintendente da Polícia Federal no Rio. Alegou que sua produtividade era baixa. Mentiu. A produtividade era alta. O superintendente foi trocado, mas não pelo nome que Bolsonaro indicou. Inconformado, ele continuou a pressionar Moro e o diretor-geral da Polícia Federal. Deu no quê? Na grave crise política que o país assiste estupefato.
Na próxima segunda-feira, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, terá acesso ao vídeo com a gravação da reunião ministerial de abril. E decidirá se o libera na íntegra ou com cortes para que os brasileiros o vejam. Os poucos que conhecem o vídeo estão convencidos de que sua exibição varrerá o que ainda resta de credibilidade a Bolsonaro e à sua malta.
O empenho do governo em mascarar a tragédia do Covid-19
Ela é muito maior do que os números mostram
Os generais que cercam o presidente Jair Bolsonaro são de fato ignorantes como parecem? Ou são apenas espertos que se apresentam como ignorantes para melhor servir ao chefe?
Quando o general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, compara o número de mortos por outras doenças com o número de mortos pelo Covid-19, o que ele esconde?
Sua esperteza? Sua ignorância? A comparação foi feita para sustentar a tese defendida por Bolsonaro de que o vírus não está matando tanto assim. Não mais do que outras doenças matam.
Nem um estudante de primeiro ano do curso de Medicina embarcaria na tese furada do ex-capitão e, agora, também do único general da ativa no governo, integrante do Estado Maior do Exército.
O Covid-19 é um vírus novo. Levará mais de um ano para que surja uma vacina contra ele. Não há vacina eficaz contra o HIV. Nem contra o Ebola. São vírus que continuam matando.
Ramos disse que 164 mil brasileiros morrem, em média, por ano, de queda, afogamento, acidente automobilístico, e outros tipos de lesões. E que nem por isso “se instaura um clima de terror”.
Nos primeiros 15 dias deste mês, o Covid-19 já matou oficialmente 8.916 pessoas. A manter-se o ritmo, serão 17.832 mortos apenas em maio, mais do que a média das causas citadas pelo general.
Entre final de março último e ontem, o vírus ceifou por aqui 14.817 vidas, 50% delas somente em uma semana. O número de casos confirmados da doença ultrapassou a marca de 218.200.
Desses, 15.205 nas últimas 24 horas. São números oficiais. Mas eles estão muito abaixo dos números reais. A essa altura, cerca de 3,5 milhões de brasileiros já foram contaminados.
É o que aponta um estudo do grupo Covid Brasil, integrado por cientistas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e de outras instituições nacionais de pesquisa.
Enquanto Bolsonaro e seus generais tentam mascarar a realidade e detonam as medidas de isolamento adotadas por governadores e prefeitos, ela se impõe em toda a sua crueza.
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