- Folha de S. Paulo
São ações provisórias com cheiro, cor e gosto de perenes
Ainda eram as trombadas iniciais do presidente Jair Bolsonaro com o Congresso, no primeiro trimestre de 2019, quando Rodrigo Maia (Câmara) afirmou que o governo não tinha uma proposta clara para os problemas do país e que o Brasil era um "deserto de ideias". Poucos avanços desde então. Parcas e obtusas, medidas aventadas ao longo dos 16 meses de gestão bolsonarista agora encontram momento conveniente para prosperar.
A se confirmarem os dados do termômetro de atividade do Banco Central, a economia levou um tombo de 5,9% em março, quando a pandemia começou a produzir seus estragos. O Ministério da Economia projeta para o ano uma retração de 4,7%, considerando que as medidas de isolamento serão suspensas no final deste mês.
Vários dos programas de socorro anunciados pela equipe econômica precisarão ser prorrogados inevitavelmente, apesar da resistência do time do Ministério da Economia, como o auxílio emergencial de R$ 600. Outros começam a ser remodelados por não atingirem o efeito desejado --o financiamento da folha de salários, por exemplo.
É no lodaçal do desemprego, da queda de renda e do aumento da miséria, e sob pressão do setor produtivo e da oligofrenia de seu chefe, que o ministro Paulo Guedes pretende emplacar um modelo liberal de contratações.
Após ver contidos pelo Congresso seus planos de flexibilizar o emprego de jovens, ele pretende convencer o Parlamento a dar um passo ousado: um programa emergencial de desoneração de custos trabalhistas --similar à Carteira Verde e Amarela, sistema com redução de encargos e direitos, que evoluiria para um regime previdenciário de capitalização.
Inicialmente, o governo bancaria o alívio da folha de pagamento para salvar as empresas, mas a intenção seria recriar um imposto como a CPMF para financiar o projeto.
Soluções provisórias e oportunistas —com cheiro, cor e gosto de medida perene.
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