Sem identificar responsável pelo desastre na costa brasileira, fica difícil evitar casos semelhantes
Em agosto do ano passado, começaram a aparecer em praias do Nordeste espessas camadas de óleo parecidas com piche. Eram os primeiros sinais de um vazamento que se tornaria o maior desastre ambiental do litoral brasileiro. Apesar da extensão, um ano depois ainda não se sabe a origem das manchas que se estenderam por 4 mil quilômetros de costa, causando danos ao meio ao meio ambiente e prejuízos incalculáveis a 1.013 localidades de quase cem municípios, nos nove estados do Nordeste e em dois do Sudeste (Espírito Santo e Rio de Janeiro).
O inventário do desastre mostra que o governo demorou a agir e, quando agiu, foi errático e descoordenado, dificultando a mitigação dos danos e a própria investigação, até hoje em andamento. Embora chamasse a atenção a quantidade de óleo — estima-se quatro vezes mais do que a do vazamento na Baía de Guanabara em 2000 —, as autoridades só despertaram para o problema com um mês de atraso. Em 5 de outubro, o presidente Jair Bolsonaro criou uma força-tarefa formada por Ibama, ICMBio, Marinha e Polícia Federal para tratar do vazamento. Somente no dia 11 de outubro foi acionado o Plano Nacional de Contingência.
A participação do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, no caso foi patética. Nas redes sociais, insinuou que o responsável pelo vazamento era um navio do Greenpeace que passava pela costa na época do desastre. Chegou a se referir à ONG como “Greenpiche”. O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, também confundiu mais que ajudou. Ao visitar uma praia em Ipojuca (PE), disse que ela estava liberada. Só que o local fora interditado devido a riscos aos banhistas.
Ao longo do tempo, apareceram várias versões para o derramamento. A partir da constatação de que o óleo pesado tinha origem na Venezuela, pôs-se a culpa num “navio fantasma”. Depois surgiu a hipótese de que o óleo vinha de uma embarcação alemã que naufragou em 1944 no litoral do Recife. A mais consistente apontava para o petroleiro Bouboulina, de bandeira grega. A tese começou a naufragar quando a empresa negou qualquer vazamento no trajeto entre Venezuela e Malásia. Mais tarde, descobriu-se que havia imagens de satélite mostrando manchas escuras no mar antes mesmo da passagem do Bouboulina.
Considerando a extensão do litoral brasileiro, compreende-se a dificuldade para identificar o responsável pelo óleo, especialmente tanto tempo depois. Sem saber o que ocorreu, porém, fica difícil adotar medidas adequadas para evitar desastres semelhantes. Navega-se num mar de dúvidas. A única certeza é que o Brasil precisa de um sistema de monitoramento mais eficaz de sua costa. O nebuloso vazamento de um ano atrás serve de alerta.
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