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Folha de S. PauloVisão do crescimento do presidente é extensiva: para ele, o Brasil vai
ser mais rico se tiver mais minas e mais pastos
Graças
a Jair Bolsonaro, a pandemia de Covid-19 já matou duas
vezes, e talvez mate três vezes, o número de brasileiros que morreram na Guerra
do Paraguai. Além disso, diga-se o que quiser do ditador paraguaio Solano
López, embora ele tenha ocupado parte do território de Mato Grosso, não lhe
ocorreu incendiá-lo, o que só ocorreu como consequência do desmonte da política
ambiental brasileira por Jair Bolsonaro.
A
matança de brasileiros não custou votos a Bolsonaro. Pelo contrário: ajudado
pelo auxílio emergencial criado pelo Congresso, o presidente da República ganhou popularidade nos
últimos meses.
Agora
descobriremos se queimar onça viva custa votos. O mais provável é que não.
Bolsonaro deixou claro na campanha que seu governo destruiria o meio ambiente.
Ninguém se importou.
Da
mesma forma, ninguém quer falar de moral, de meio ambiente, de padrões
elementares de decência, de preservar o mundo para nossos descendentes, certo?
Se nos importássemos com isso, eu estaria escrevendo sobre outro presidente.
Vamos
falar de dinheiro, então.
Pois
bem, o que a destruição do Pantanal e da Amazônia prova é que, se você
acreditou que Paulo Guedes faria diferença, você é um
otário.
Porque
isso aí, garimpo ilegal, invasão de terras indígenas, destruição de floresta, é
o verdadeiro programa econômico de Jair Bolsonaro. É assim, inclusive, que ele
pensava em ficar rico quando estava no Exército. É nisso que ele acredita. Sua
visão do crescimento é extensiva: para ele, o Brasil vai ser mais rico se tiver
mais minas e mais pastos. A visão de Bolsonaro para o Brasil é Serra Pelada sob
administração do Major Curió.
Nada
contra minas e pastos, mas é impressionante que não passe pela cabeça do
presidente que nossa prioridade deva ser aumentar a produtividade, não só das
minas e pastos, mas também das fábricas, dos restaurantes, das faculdades, dos canais de YouTube e das lojas já
existentes.
Capital
humano? Meu amigo, o ministro da Educação era o Weintraub, uma
hipoteca subprime de capital humano. Instituições? Jair nunca encontrou uma
instituição em que não tenha tentado colocar bomba, a começar pelo Exército.
Privatização? A única privatização que mereceu discursos de aprovação do
deputado Jair Bolsonaro foi a da polícia da zona oeste carioca.
Já
há setores da elite percebendo o problema. Uma coalizão de ONGs ambientais e associações do
agronegócio entregaram a Bolsonaro um documento pedindo que a
política ambiental deixe de ser apenas o Salles com um fósforo. O agronegócio,
afinal, precisa do acordo com a União Europeia, que não deve sair sem
salvaguardas ambientais.
No
fundo, mesmo se você só pensar em dinheiro, fica a dica: meça o grau de
compromisso dos seus candidatos a presidente com a eficiência econômica pelo
seu programa ambiental. Um programa de proteção ambiental responsável quer
dizer que ele não vai ter a alternativa de crescer extensivamente, e vai ter
que começar a trabalhar pela produtividade.
Mas
não deveríamos pensar apenas em dinheiro, deveríamos? A expectativa era que em
2020 já fôssemos melhores. Brasileiros morrendo sem ar ou onças queimadas vivas
não deviam custar votos só quando também custam dinheiro.
*Celso
Rocha de Barros, servidor federal, é doutor em
sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).
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