segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Marshall no ensino – Opinião | Folha de S. Paulo

Um esforço como o da reconstrução do pós-guerra europeu seria vital para a educação depois da Covid 

 Os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2019, conhecidos na semana passada, mostram um pequeno avanço no desempenho das redes brasileiras de ensino em relação à avaliação anterior, de 2017.
 
Pela primeira vez desde 2009, houve progresso significativo no ensino médio público, onde se formam 85 de cada 100 jovens no Brasil, embora a nota das escolas ainda esteja longe das metas estipulados para quase todos os estados. 

 O Ideb multiplica o resultado de provas de matemática e português pelo percentual de alunos que passam de ano. Numa escola em que os jovens tiraram 6 e 90% foram promovidos, o Ideb será 5,4. Avalia estudantes no fim do primeiro ciclo do ensino fundamental, tipicamente aos 10 anos, na série derradeira do segundo, aos 14, e os concluintes da instrução média, aos 17.

As metas foram traçadas de acordo com o patamar das diversas redes de ensino em meados da década passada, de modo a fazer todas elas convergirem para alta proficiência conforme o século avance. A realidade, no entanto, tem ficado aquém da trajetória desenhada.

A não ser pelo desempenho nos anos iniciais da etapa fundamental —na qual as redes públicas em 20 dos 26 estados conquistaram sua meta em 2019—, alcançar o alvo tem sido mais exceção que regra.

No final do ciclo fundamental, em sete estados as redes públicas atingiram suas metas. Na conclusão do ensino médio, apenas Goiás e Pernambuco conquistaram pontuação suficiente para batê-las. 

 Alagoas, Amazonas, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Paraná, Pernambuco e Piauí compõem o pequeno grupo em que a rede pública exibe proficiência satisfatória em uma ou mais etapas. Seu segredo consiste em mobilizar forças locais em torno de práticas sabidamente eficientes de gestão escolar e transmissão do conhecimento. É o básico.

A surpreendente quebra da letargia no ensino médio pode indicar que os bons exemplos vão se disseminando pelas outras redes públicas. É uma pena, para não dizer uma tragédia, que a extensa paralisação das atividades escolares durante a pandemia vá provavelmente interromper esse processo. 

Não se requer um “plano Marshall” para recuperar a infraestrutura após a onda infecciosa. Mas uma mobilização nacional com aquele espírito de reconstrução do pós-guerra europeu seria recomendável para salvar essa geração de estudantes do atraso para onde ruma pela contingência e pela falta de coragem política de abreviar ao máximo o tempo fora da escola.

Não há outra batalha tão vital para atacar as causas da desigualdade e da estagnação seculares no Brasil e propiciar uma nação mais solidária e próspera no futuro visível.

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