Bares, praias, igrejas e academias estão lotados — e não há plano para volta às aulas de 13 milhões de alunos
Após seis meses de escolas fechadas devido à pandemia de Covid-19, cerca de 60% das redes municipais de Educação no país não criaram protocolos para a volta às aulas. Nada menos que 13,3 milhões de alunos ainda não têm data para retomar as atividades presenciais. O dado, que consta de levantamento feito pela União Brasileira de Dirigentes em Educação, Itaú Social e Unicef em 4.272 municípios (77% do total), preocupa. Admita-se que as secretarias tenham visões distintas sobre o momento ideal para a volta às aulas — sabe-se que o consenso nesse campo é difícil. Mesmo assim, não dispor ao menos de um plano com esse objetivo é desalentador.
Um estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revela que, em junho, o Brasil somava 16 semanas com escolas fechadas, superando a média de países da OCDE, de 14 semanas. Em termos globais, os efeitos da suspensão das aulas serão catastróficos — e duradouros. Segundo a organização, os impactos na atividade econômica deverão durar até o fim do século, levando a uma contração de 1,5% na economia mundial ao longo do período.
Os estragos não se contam apenas em números ou cifras. Estudo do epidemiologista Wanderson de Oliveira mostra que as longas quarentenas podem causar prejuízos sérios às crianças. Agravam transtornos psicológicos, comprometem a segurança alimentar e aumentam os casos de abusos e maus-tratos.
Estamos numa fase de declínio da epidemia, e o risco para o sistema de saúde parece menor. Nos países europeus que já enfrentam uma segunda onda de casos, a letalidade do vírus tem tem sido notadamente mais baixa. Qualquer retomada precisaria, naturalmente, ser organizada de modo a minimizar os riscos e assegurar a saúde da população. Mas é algo perfeitamente viável, como mostram experiências bem-sucedidas em países como Alemanha, França, Bélgica ou Holanda. Este é o momento em que as escolas deveriam estar prontas e equipadas para medir a temperatura dos estudantes na entrada, testar casos suspeitos, manter alunos afastados na sala de aula etc. Nada disso foi feito.
No Brasil, estados e municípios em sua maioria decretaram o fechamento das escolas em março. Em junho, quando os números ainda estavam em alta, deram início à retomada de atividades. Governadores e prefeitos têm autonomia para tomar essas decisões, mas, diante da ausência flagrante de coordenação do MEC, assiste-se a um total descompasso. Há escolas que já voltaram, algumas se preparam para o retorno, e muitas outras, nem querem saber. No tradicional Colégio Pedro II, os alunos nem aulas remotas têm. É a pedagogia da colcha de retalhos.
Abriram-se shoppings, bares, restaurantes, igrejas e academias. Liberaram-se parques, pontos turísticos e praias — efusivamente lotadas nos fins de semana. Escolas? Figuram como ponto cego nos planos de flexibilização. O Brasil sempre mostra a sua cara.
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