-Nunca
se viu nada de parecido
O
voto no Brasil é obrigatório há 74 anos. O Código Eleitoral prevê multa de 3% a
10% sobre o salário mínimo da região para os que deixarem de votar e não se
justificarem.
Sem
a justificativa e o pagamento da multa, o eleitor não poderá obter passaporte
ou carteira de identidade e renovar matrícula em estabelecimento de ensino
oficial ou fiscalizado pelo governo.
Mas
como a punição pela abstenção é irrisória, o voto obrigatório é uma ficção. O
prazo para justificar a abstenção é de 60 dias. E basta pagar uma multa de R$
3,50 para que o eleitor fique quite.
Este
ano, graças à crise sanitária, não votar e não ser multado ficou ainda mais
fácil. Em cartório, o eleitor poderá depois justificar sua ausência dizendo que
passou mal no dia da votação.
“Em
algum lugar no futuro, idealmente, o voto deverá ser facultativo”, disse a este
blog o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior
Eleitoral.
“Mas
a nossa jovem democracia ainda terá que ter esse ajuda extra, lembrando que o
voto facultativo dá protagonismo aos extremos, o que não é bom no momento que o
país atravessa”.
Segundo
a mais recente pesquisa Datafolha, por medo de ser contaminado pelo
coronavírus, 1 em cada 5 moradores da cidade de São Paulo diz que pode deixar
de ir votar em novembro.
34%
dos eleitores afirmam que não se sentem nada seguros em sair para votar, 24%
dizem se sentir muito seguros e os outros 42% sugerem ter pouca segurança.
Os
eleitores mais ricos são os que revelam menor grau de insegurança (12%). A
maior taxa (24%) está entre os que recebem até dois salários mínimos. A s
mulheres são mais inseguras.
Nunca
antes na história uma eleição mereceu ser chamada de atípica como esta. Ela se
dará sob a convergência inédita de fatos extraordinários – o mais impactante
deles, a pandemia.
O
vírus que já matou quase 142 mil pessoas e infectou mais de 4 milhões e 730 mil
transferiu para novembro a eleição que deveria acontecer em outubro e que
poderá se estender até dezembro.
A
crise econômica que o país enfrenta decorre da pandemia que aumentou também a
polarização política. A briga pelo voto deixará as ruas e será travada em
grande parte nas redes sociais.
Por ser
municipal, a eleição de vereadores e prefeitos costuma girar em torno de
problemas locais. A pandemia, a crise econômica e a polarização política
nacionalizarão o discurso dos candidatos.
A abstenção será maior do que jamais foi. Tudo isso somado, os resultados tornam-se ainda mais imprevisíveis. Quem se disser capaz de prevê-los é porque está mal informado.
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