A
iminente derrota de Donald Trump, muito mais do que a vitória de Joe Biden,
tranquiliza o mundo e acalma os sentidos da humanidade
A iminente derrota de Donald
Trump, muito mais do que a vitória de Joe Biden, tranquiliza o mundo e acalma
os sentidos da humanidade. Esta talvez seja a única boa notícia de 2020 até
aqui. Melhor do que isso, quem sabe, pode ser o desenvolvimento final de uma
vacina eficiente contra o coronavírus. Mas ainda assim, e apesar de a vacina
ter o poder de salvar milhares de vidas que seriam perdidas prematuramente, a
saída de cena do megalomaníaco Trump produz um grau também muito elevado de
relaxamento, porque era grande o risco dele permanecer infernizando o mundo por
mais quatro anos.
A saída de Trump
representaria um recomeço para o mundo. Desaparecera a espada que pairava sobre
o globo presa apenas nas mãos de um líder errático, egocêntrico e mentiroso. Se
o mundo respirar aliviado com a vitória de Biden, os Estados Unidos terão de
procurar entender o recado das urnas. O mais importante deles talvez seja a
mensagem de respeito absoluto à democracia, onde quem manda é o eleitor, e
ponto final. Mesmo com as imperfeições do modelo eleitoral americano, quem
votou e deve eleger um novo presidente foi o eleitor.
Outra
vencedora desta
eleição foi a verdade. O maior mentiroso que já ocupou o Salão Oval deve deixar
o poder acumulando extraordinárias 20 mil mentiras contabilizadas pelo jornal
“The Washington Post” até agosto. Embora metade do país tenha votado em Trump, e
destes muitos compraram e seguirão comprando as lorotas do presidente derrotado
e seus alucinados seguidores, o fato é que a maioria foi às urnas e votou
também massivamente num partido que absolutamente não é socialista, como Trump
insistia em proclamar.
Restabelecida a verdade,
falta ainda aos EUA recuperarem sua dignidade. Trump transformou o país numa
chacota global, como Bolsonaro fez com o Brasil. A diferença entre os dois é
que um é periférico e outro comanda a maior potência econômica e militar do
planeta. Joe Biden é muito bem talhado para esta tarefa. Não importa como seja
a saída de Trump, confirmada sua derrota, se esperneando como um menino
mal-educado ou de modo civilizado, quem deverá mandar a partir do dia 20 de
janeiro de 2021 será um homem educado, tolerante e conciliador.
Mesmo que Trump bata o pé
e faça birra, insistindo com suas diversas ações nos tribunais regionais e na
Suprema Corte, o resultado final será mais uma derrota para ele. Sem qualquer
evidência que sustente as acusações de fraudes eleitorais que fez, as ações são
ridículas e serão desconsideradas pela Justiça. Nesta empreitada, Trump já
perdeu o apoio da sua maior aliada na mídia, a Fox News, que condenou a
iniciativa. Falta perder o suporte do seu partido.
Ao ser
retirado do
ar na noite de quinta-feira por emissoras de TV americanas, quando fazia um
pronunciamento na sala de imprensa da Casa Branca, Trump mentia descaradamente
sobre como as alegadas fraudes se processavam. Os veículos que o silenciaram
disseram que não podiam permanecer trazendo ao público americano mentiras que
desinformavam quando sua missão é exatamente o contrário, bem informar a
população.
Se a
onda azul esperada
não aconteceu, é verdade também que a vitória desenhada de Biden não será por
pequena margem como se chegou a imaginar. O número de delegados no Colégio
Eleitoral de Biden pode ser exatamente igual àquele que levou Trump para a Casa
Branca em 2016. As filas de votação em plena pandemia, onde pessoas passaram
até dez horas para votar, provam que os americanos entenderam o que estava em
jogo. Por isso também esta eleição teve recorde de eleitores e o vencedor passa
a ser o presidente com o maior número de votos da História.
No
Brasil temos
um problema interessante a ser considerado a partir de agora. Confirmada a
vitória de Biden, o presidente Jair Bolsonaro terá de se adaptar aos novos
tempo. Vai ser difícil. Por ora, o governo do Brasil pode se tornar em
adversário das duas maiores potências globais, a China e agora os EUA. Para se
reposicionar globalmente, terá de dar uma guinada de 180° na política externa e
demitir o aloprado chanceler Ernesto Araújo. São novos tempos, absolutamente
diferentes do que vivemos até aqui. Quem não se recolocar rapidamente, vai
comer poeira.
Escapamos,
Lenin
“A
democracia alimenta os germes da sua própria destruição”. A frase é de Vladimir
Ilyich Ulyanov, o Lenin, líder máximo da revolução soviética de 1917. “A
democracia dá a cada um o direito de ser o seu próprio opressor”. Esta é do
poeta, escritor, diplomata e abolicionista do século XIX James Russell Lowell.
O que ambos queriam dizer é que é bem possível transformar uma democracia numa outra coisa
qualquer através do voto. Basta votar errado. Os Estados
Unidos tiveram tempo e clareza e estão prestes a impedir que o erro cometido em
2016 seja consolidado este ano.
Não
sonhe
Quem
acha que o presidente Jair Bolsonaro vai se reagrupar globalmente se Donald
Trump for derrotado é melhor colocar as barbas de molho. Se internamente houve
um reagrupamento, ele se deu em razão da habilidade do centrão e da fraqueza
política do capitão. No plano externo, o Brasil vai precisar retomar o caminho da lucidez e do bom senso, no
caso de Biden vencer. Além de demitir o chanceler Ernesto Araújo, o Brasil terá
também de rever sua política ambiental, se quiser construir um entendimento com
a nova Casa Branca. Neste caso, Ricardo Salles também terá de pirulitar.
Era
da lorota
Eles
se parecem até nisso. O filho de Donald Trump é tão primário quanto os três
zeros de Bolsonaro. Não é necessário citar as besteiras que Eric Trump escreveu
no Twitter, que as apagou por atentarem
contra a democracia. No Brasil, você viu, o zerinho
Eduardo Bolsonaro atacou a eleição americana e acusou Biden de fraudá-la. Claro
que sem provas. O que os iguala é a impressão que têm de que as pessoas vão
engolir todas as mentiras e invenções que colocam nas suas redes sociais. Pelo
que se viu nos EUA, a era da lorota parece estar chegando ao fim.
Biden
e as artes
Diferentemente
do Brasil, nos Estados Unidos a arte não precisa necessariamente do dinheiro de
empresas privadas e muito menos de dinheiro público para sobreviver. Os
negócios da cultura são muito bem consolidados, e o público americano é mais
maduro que o brasileiro. Mas ainda assim, é reconfortante saber que o provável
presidente eleito Joe Biden é um entusiasta e um estimulador da arte. Segundo
reportagem de Graham Bowley, do jornal “The New York Times”, Biden sempre viu a
arte como “um instrumento importante para a economia, um gatilho para a ação
política e um agente de construção comunitária”. De acordo com depoimento ao
“NYT” feito por Robert L. Lynch, presidente do movimento “Americans for the
Arts”, a atitude de Biden em relação à arte “é menor do ponto de vista do
consumidor de cultura e mais de acordo com os valores inspiracionais e de transformação”
que ela pode produzir na sociedade.
O
que vale mais
“Em
campanha eleitoral não importa apenas o que você apoia, mas também o que você é
contra”. A frase é do personagem Eli Gold, um estrategista político da série
“The Good Wife”. Ele explica a Alicia Florrick, a estrela da série e candidata
a um cargo eletivo, que não basta apenas você apontar os bons caminhos que
pretende percorrer se eleito, mas também os caminhos que vai necessariamente
evitar na jornada. Biden deve ganhar porque disse claramente aos eleitores
americanos que não seguiria pela trilha do moribundo Trump.
Bom
para o Brasil
A
eleição dos Estados Unidos prova a força do eleitor. Mesmo em meio a uma
pandemia letal, milhões
de eleitores bateram recorde e foram às urnas para julgar
o governo de Donald Trump. O mesmo vigor que rejeitou Hillary Clinton há quatro
anos, pode sabotar agora o homem que a derrotou. O exemplo americano precisa
ser observado mundo afora, e especialmente aqui, porque todos sabem que o que é
bom para os EUA é bom para o Brasil.
Gota
a gota
Você pode dizer tudo sobre a eleição presidencial americana, menos que ela não foi emocionante.
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